Segundo Reinaldo de Carvalho, coordenador da Rede de Saúde Mental, em média, são registradas seis tentativas por semana
Coordenador da Rede de Saúde Mental, Reinaldo de Carvalho, durante evento realizado na manhã de ontem no IFSP (Foto: Divulgação/Prefeitura)
Da Redação
O Ambulatório de Saúde Mental de Votuporanga aumentou o número de registros de tentativas de suicídio no município. Segundo Reinaldo Antônio de Carvalho, coordenador da Rede de Saúde Mental, ao A Cidade, em média, o ambulatório registra seis tentativas de suicídio por semana, quase um registro por dia. Em abril deste ano, a média era de seis tentativas por mês.
De acordo com os dados do Ambulatório de Saúde Mental de Votuporanga, 86% das tentativas são feitas por mulheres, 93% fizeram a tentativa por ingestão de medicamento, 43% nunca receberam atendimento psiquiátrico ou psicológico, 11% tinham idade inferior a 20 anos e 61% das notificações apresentavam dados incompletos/erros no preenchimento.
A informação foi divulgada na manhã de ontem, durante o “I Seminário Interdisciplinar Municipal de Prevenção e Posvenção do Suicídio”, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, o IFSP.
De acordo com Reinaldo de Carvalho, coordenador da Rede de Saúde Mental, os dados aumentaram por conta de ações de melhorias nas notificações dos casos. “Houve uma melhora dos nossos equipamentos de saúde. O suicídio era algo que não notificávamos, sendo que o paciente ia para um primeiro atendimento e de lá era dispensado. Hoje, ele é atendido, pode até ser dispensado, mas é notificado para depois fazermos a buscativa. Porém, o nosso grande problema é que esse paciente não quer ir ao atendimento. Nós ligamos diversas vezes para tentar ajudar e ele mesmo traz a questão do preconceito e da vergonha, o que dificulta o trabalho”, explicou.
O coordenador explicou ainda que a notificação revela a situação do município e que ações devem ser tomadas para prevenir a tentativa de suicídio, porque elas podem ser evitadas em tempo oportuno, com base em evidências e com intervenções de baixo custo. “O paciente tem um atendimento de acolhimento por profissionais da psicologia, que direciona para atendimento médico ou suporte psicológico. Nós temos também um comitê da violência que é realizado em conjunto com a Saúde, Educação, Direitos Humanos e outros seguimentos do território para, nesse momento, ter o entendimento da notificação”, afirmou Reinaldo de Carvalho.
“Falar é a melhor solução”
O coordenador da Rede de Saúde Mental, Reinaldo de Carvalho, ressaltou durante o seminário sobre a importância de falar sobre o suicídio. Ele explicou que existe a possibilidade de reduzir o número de tentativas. “As pessoas estão perdendo a vergonha de falar e estamos quebrando o tabu com as campanhas, a exemplo do Setembro Amarelo, para sensibilizar a todos para abordar o suicídio sem preconceito. Banalizar não é correto e aumenta o risco”, disse.
Os sinais
Ele explicou ainda que é possível identificar os sinais das tentativas de suicídio desde a infância e adolescência, como o abuso de drogas, desorganização familiar, quadro de depressão, alterações de conduta, gestações precoces, abusos e maus-tratos, casos conhecidos, autolesões e tentativas anteriores. “O suicídio vem da vulnerabilidade. Não devemos pensar só no suicídio, mas também observar o espaço em que a pessoa está. Não podemos desconsiderar as crises na vida da pessoa, as mudanças significativas da vida, porque é onde, muitas vezes, acontece a tentativa de suicídio”, afirmou o coordenador da Rede de Saúde Mental.
(Colaborou Gabriele Reginaldo)