Material distribuído chama programa do governador Tarcísio de “escolas-quartel”; Sab fará consultas públicas sobre a iniciativa em agosto
O professor e conselheiro da Apeoesp, João Carlos Ribeiro, trouxe a carta aberta pessoalmente ao jornal A Cidade (Foto: A Cidade)
Da redação
A Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) iniciou a distribuição em Votuporanga de uma Carta Aberta à população contra a implantação da escola cívico-militar. O material distribuído chama o programa do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de “escolas-quartel”. Na cidade, a escola estadual Sarah Arnoldi Barbosa, o SAB, fará consultas públicas sobre a iniciativa em agosto.
O documento está sendo entregue a pais e alunos pedindo para que votem não na consulta pública. Ao A Cidade a carta foi entregue pessoalmente pelo professor e conselheiro da Apeoesp João Carlos Ribeiro, que disse ser contrário ao projeto por entender que a sociedade evoluiu e que certos tipos de comportamento já não são mais admitidos.
“Essa questão cívica e religiosa compete ao pai, à escola compete transmitir o conhecimento. Não é através de disciplina militar que vão resolver o problema da violência nas escolas, porque violência gera violência. Nós precisamos trazer o aluno pela inteligência e não criar ‘robozinhos’. Essa tentativa de militarização da escola, do aquartelamento, busca criar robôs e nós defendemos o livre pensamento”, disse o educador.
João Carlos afirmou ainda que a intervenção externa nas escolas irá criar muitos problemas e que parcerias com a polícia são bem-vindas, assim como ocorre com o Proerd e a Ronda Escolar, mas não a intervenção dentro das instituições de ensino.
“A escola é pública e laica. A comunidade é que é responsável por ela. Não existe um parecer exato até que ponto essa intervenção e aquartelamento das escolas vai funcionar. Eles dizem que o aluno hoje em dia dá tapa na cara do professor e aí nós chamamos a Polícia Militar, mas não é bem assim. Em um universo de 700 a 800 alunos, são dois ou três que dão problema, mas isso temos que desenvolver com inteligência e não de disciplina militar”, concluiu.
Escola cívico-militar
A carta da Apeoesp surge como uma resposta à notícia do A Cidade de que o SAB pode se tornar a 1ª escola cívico-militar de Votuporanga. A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo publicou o edital de convocação da consulta pública para que a comunidade escolar opine sobre a implantação ou não do modelo na instituição de ensino da cidade e das demais escolas que manifestaram interesse em todo o Estado.
A partir do edital, o SAB deverá organizar reuniões com pais ou responsáveis até o dia 31 de julho para discutir o novo modelo. A opinião da comunidade escolar deve ser registrada entre os dias 1º e 15 de agosto, por meio da Secretaria Escolar Digital.
Confira a Carta aberta da Apeoesp
Vote não às escolas–quartel!
Consulta pública: de 1 a 15 de agosto
Professor(a), estudante, funcionário(a): você aceita que sua escola seja transformada num quartel, com regras e disciplina militares?
Pai, mãe: você concorda que seu filho/filha possa ser interpelado(a) dentro da escola em que estuda, não por um(a) educador/educadora, mas por um policial?
Qual é o papel de uma escola pública? Gerar e transmitir conhecimento e propiciar formação sólida a crianças e jovens ou moldar suas consciências de acordo com critérios distorcidos de ética, civismo, Pátria e família? A prioridade deve ser definir comprimento dos cabelos e modo de vestir ou formar cidadãos e cidadãs?
Quem tem formação para ministrar aulas na escola pública é professor/professora, não policiais.
A escola é local de diversidade, pluralidade de ideias e concepções pedagógicas, liberdade de ensinar e aprender, gestão democrática. São princípios da Educação brasileira inscritos na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Escola é local de construção de sonhos, não de autoritarismo e repressão.
O governo Tarcísio de Freitas quer transformar escolas da periferia em quartéis, criminalizando a juventude pobre e negra. Isso é discriminação e preconceito!
O programa de escolas cívico-militares (escolas- quartel) foi aprovado em maio na Assembleia Legislativa por 52 deputados bolsonaristas em meio a violentas agressões da Tropa de Choque da Polícia Militar contra as pessoas que se manifestavam contra o projeto.
O Ministério Público Federal e a Advocacia Geral da União já se manifestaram: a lei é inconstitucional.
Ajude a mobilizar sua escola contra esse projeto. Procure a direção escolar, o Conselho de Escola, grêmio, APM, toda a comunidade. Manifeste-se!