Para o neurologista Dr. João Ricardo Leão, Natal funciona como um verdadeiro “gatilho emocional”, capaz de reacender memórias e fortalecer vínculos
Neurologista Dr. João Ricardo Leão (Foto: Divulgação)
Você já percebeu como uma simples música natalina, uma rua iluminada ou o cheiro de uma comida típica são capazes de provocar lembranças quase instantâneas? Para a Neurologia, esse fenômeno vai muito além do simbolismo das festas de fim de ano. Segundo o neurologista Dr. João Ricardo Leão, o Natal provoca reações reais e mensuráveis no funcionamento do cérebro.
“O Natal é um período em que diferentes áreas cerebrais são ativadas simultaneamente, principalmente aquelas ligadas à memória, à emoção e às relações sociais”, explica o especialista.
De acordo com o médico, o sistema da memória tem papel central nesse processo. Experiências repetidas ao longo da vida – como ceias, encontros familiares e rituais – ficam registradas em regiões profundas do cérebro, especialmente no hipocampo.
“Quando entramos em contato novamente com estímulos semelhantes, como músicas ou imagens típicas do Natal, essas memórias são reativadas de forma automática. Por isso, lembranças antigas surgem acompanhadas de sentimentos intensos, como saudade, alegria ou até tristeza”, afirma Dr. João Ricardo Leão.
Outro protagonista desse cenário é o sistema límbico, responsável pelo processamento das emoções. O Natal costuma estar associado a sensações de pertencimento, afeto e segurança, o que explica o impacto emocional ampliado nesse período.
“Mesmo quem teve experiências difíceis nessa época sente uma resposta emocional maior. O cérebro não reage apenas ao presente, mas a tudo o que foi aprendido e vivenciado ao longo da história de cada pessoa”, pontua o neurologista.
O aspecto social também exerce forte influência sobre o cérebro. Somos biologicamente programados para o convívio, e o contato humano típico das festas de fim de ano estimula a liberação de neurotransmissores importantes.
“Durante encontros e celebrações, há maior liberação de oxitocina, relacionada aos vínculos e à confiança, e de dopamina, ligada à expectativa e à sensação de recompensa. Isso ajuda a explicar por que essas reuniões costumam gerar uma sensação especial de bem-estar”, destaca.
Por outro lado, o médico alerta que o Natal também pode ser um período de maior ansiedade para algumas pessoas. As mesmas áreas emocionais ativadas pelo afeto podem intensificar cobranças internas, frustrações e lembranças difíceis.
“Isso não significa fragilidade emocional. É apenas um cérebro sensível ao contexto. Cada pessoa carrega sua própria história, e o cérebro responde de acordo com essas vivências”, reforça.
Para o Dr. João Ricardo Leão, o Natal funciona como um verdadeiro “gatilho emocional”, capaz de reacender memórias, fortalecer vínculos e resgatar experiências que ajudaram a moldar quem somos.
“Compreender esse funcionamento nos permite viver o Natal com mais empatia – com os outros e conosco mesmos. É uma oportunidade de criar novas memórias e fortalecer laços que fazem sentido para a nossa história”, conclui.
Talvez seja exatamente isso que torne o Natal tão especial: não apenas uma data no calendário, mas um momento em que o cérebro revisita sentimentos, conexões e histórias que dão ainda mais significado ao clima natalino.