Longe dos gramados desde maio de 2015, maior artilheiro da história do CAV assume erros do passado e corre contra o tempo para voltar a jogar futebol profissionalmente: “isso é minha vida”
Artilheiro matador! Romário fez os dois gols da final contra o São Vicente, que garantiu o título de campeão da Segundona
Fábio Ferreira
Foram quase 30 minutos de conversa franca no telefone. Do outro lado da linha, a 525 km de Votuporanga, em Alfenas-MG, “seo” Vicente, de 62 anos, pai de Romário, é quem atende a ligação e conversa primeiro com nossa reportagem. Depois, passa o telefone ao filho, o maior artilheiro da história do Clube Atlético Votuporanguense, que chegou da academia e que desta vez não foge de nenhuma pergunta. É o mesmo Romário, brincalhão, jeitão inocente, de frases curtas e muita risada. Mas não é aquele mesmo Romário.
Desde a saída do CAV, no dia 28 de janeiro de 2015, para jogar pelo Itumbiara no Campeonato Goiano daquele ano, a vida do atacante desmoronou e a figura do pai entrou em ação. Foram nove meses internado em uma clínica de recuperação e tratamento para usuários de drogas em Descalvado, município próximo a São Carlos. “Ele voltou arrasado de Itumbiara. A cocaína acabou com ele. Ele estava deixando tudo na droga”, confessa “seo” Vicente.
O assunto incomoda, mas o atacante encara. Longe dos gramados há cerca de um ano e meio, e de volta ao convívio familiar há apenas quatro meses, esta é a primeira vez que Romário assume o problema publicamente. “É uma coisa que me atrapalhou demais. Antes mesmo de chegar em Votuporanga a primeira vez já tinha começado a usar drogas. Comecei de jovem na minha cidade. Quando cheguei ao Guarani (primeiro clube profissional da carreira) já estava envolvido. É uma coisa muito complicada. Só colocando Deus na frente de tudo para se recuperar”.
O pai, que é professor de uma escolinha de futebol sub-17 em Alfenas, conta que na primeira passagem do filho pela Votuporanguense, em 2012, já havia sido alertado sobre o problema. “Na época, o Kléber Magalhães (ex-supervisor de futebol) me ligou e contou. Conversei com meu filho muito sério, e depois as coisas se acertaram”.
De acordo com “seo” Vicente, após a transferência do CAV ao Mogi Mirim, no fim de 2012, o filho teve outra recaída. “Fui lá morar com ele e o Romário chegou bem ao clube, mas se aproximou de pessoas erradas e a coisa desandou”. Como na maioria dos casos, “seo” Vicente conta que demorou para perceber que o filho estava na droga. “Você ouve o buxixo, mas a gente é o último a saber”.
Ao falar sobre o futuro do filho, é notório a mudança no tom de voz do pai, que acredita no potencial do filho para dar a volta por cima. “Ele está curado, graças a Deus. O Romário nunca foi reserva em time nenhum que ele jogou. Com uma nova oportunidade, seja na Votuporanguense ou em outro lugar, tenho certeza que ele voltará a brilhar em campo”.
“O Romário vai voltar”. A frase é do próprio atacante, hoje com 26 anos, que garante que desde que saiu da clínica de recuperação passa o tempo na academia, correndo e participando dos treinos do pai junto a molecada na escolinha. Além da forte identificação com a torcida Alvinegra, Romário tem outro motivo para ter saudade de Votuporanga. Seu filho de 2 anos e 7 meses, fruto de um relacionamento em sua primeira passagem pelo clube, vive com a mãe no município.
Segundo “seo” Vicente, empresário do filho, ainda é cedo para dizer onde Romário jogará em 2017, mas a princípio o camisa 9 tem apenas uma proposta. E esta é de um velho conhecido da torcida Alvinegra. “O China (técnico que trabalhou com Romário na Votuporanguense em 2012) está no Araxá-MG e quer levar ele pra lá”.
Quanto a um possível retorno de Romário ao CAV, “seo” Vicente é cauteloso, mas não esconde que esse é o grande desejo da família. “Tenho uma boa relação com o presidente Marcelo. Recentemente ele me ligou para saber como estava o Romário, mas não chegamos a falar mais sobre um acerto. Se tivesse que escolher um clube para recomeçar, com certeza gostaríamos que fosse a Votuporanguense”.
Antes de desligar a ligação, no maior jeito Romário de ser, ele responde como seria jogar pela Votupo-ranguense na nova Arena Plínio Marin. “Você tá maluco. Isso seria um sonho”. É o mesmo Romário de sempre.