Ah se conseguíssemos entender tamanha grandeza! Vejamos o que diz nosso valoroso Rubens Alves em seu texto “Como ensinar”: “Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música, não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe falaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes”. Que visão sensível e inspiradora sobre o processo de aprendizagem! Em vez de partir da técnica, o ensino deve começar pelo encantamento, pela beleza e pelo desejo genuíno de aprender. A curiosidade e o prazer precedem a técnica e a disciplina, tornando a aprendizagem algo natural e envolvente. O autor utiliza exemplos concretos para ilustrar sua tese. Se quisermos ensinar jardinagem, devemos antes apresentar a criança à beleza das flores e dos jardins, para que ela se encante e deseje aprender as técnicas. O mesmo ocorre com a música e a leitura: antes de ensinar notas musicais ou sílabas, é preciso proporcionar experiências que despertem o interesse e a paixão. Essa abordagem se contrapõe ao modelo tradicional de ensino, muitas vezes focado na memorização e na imposição de regras antes mesmo de o aluno compreender o sentido daquilo que aprende. Tudo tão automático, desprovido de interesse e sentimento, meramente um ato profissional. Ao contrário, o pensamento de Rubens Alves dialoga com diversas teorias pedagógicas, como as de Paulo Freire, que defendia a educação como um processo de libertação e descoberta, no qual o aluno deve ser protagonista. O ensino não deve ser um ato mecânico, mas sim um convite à exploração do conhecimento. Quando a aprendizagem nasce do desejo, ela se torna significativa e duradoura. Além disso, o texto nos leva a refletir sobre o papel do professor. Em vez de ser um mero transmissor de conteúdos, ele deve ser um mediador que instiga a curiosidade dos alunos. O verdadeiro mestre não impõe o conhecimento, mas cria condições para que ele floresça naturalmente. É por isso que contar histórias pode ser mais eficaz do que simplesmente ensinar regras gramaticais, e ouvir belas melodias pode ser mais inspirador do que decorar notas musicais. No mundo atual, com essa enxurrada de informação acessível a qualquer momento, o maior desafio do ensino não é transmitir conhecimento, mas despertar o interesse pelo aprendizado. Se quisermos formar leitores, músicos, cientistas ou qualquer outro profissional, precisamos primeiro formar apaixonados pelo conhecimento. O verdadeiro aprendizado não acontece por obrigação, mas pelo fascínio e pela vontade de explorar novos mundos. O conhecimento deve ser apresentado como um convite irresistível à descoberta. Quando há encantamento, a busca pelo saber se torna um processo natural e prazeroso. Assim, ensinar é muito mais do que transferir informações: é inspirar sonhos e abrir portas para novos horizontes.