Não creio que as mulheres queiram um mundo sem homens, tampouco que eles desejem um mundo sem mulheres. Portanto, a nenhuma das partes pode interessar uma guerra dos sexos, já que ninguém ganha. O ideal é direitos iguais para ambos. Para um bom relacionamento, o mais que o homem pode querer da mulher é que ela seja livre. E vice-versa. Se um domina, ambos são dominados. Soa esquisito, mas é real. Quem se supõe dominador na verdade é escravo dessa necessidade de impor-se. O esforço para não perder a rédea sobre o outro é uma espécie de prisão. É algo que a pessoa realmente livre não tem. Só é livre quem não despende tempo nem energia para subjugar alguém. Talvez falte a muitos homens o necessário senso para perceber que a liberdade das mulheres significa a liberdade deles, o que explica o fato de que um bom número deles, em vez de desejar ser amado pela mulher, prefere ser temido, pois dá menos trabalho. Isto é fruto do pensamento machista. Um homem sensato sabe que ser amado ou, pelo menos, ser respeitado é infinitamente melhor do que ser temido. Bem por isso, a mulher também quer ser amada e respeitada ao invés de ser controlada. Por que deveria ser diferente?
Para qualquer dos sexos, ser livre é ter autogerência, autodomínio, capacidade para cuidar de si, poder de escolha. Mulheres livres assustam muitos homens. Supõe-se que elas podem bater asas e cair fora se não estão felizes com a relação. Mulher livre é mais exigente e não se sujeita a manter-se presa a um homem e a um trabalho que não a valoriza nem a satisfaz, não se amarra a homem acomodado, não fica onde não se sente bem. Quer tudo muito denso, muito intenso, não gosta de ser considerada sexo frágil. Quer ter poder de sedução. Muitos homens têm um pé atrás em relação a mulheres independentes ou porque temem não corresponder às expectativas delas ou porque têm medo de que elas façam mau uso da liberdade. Quanto a isso, são inseguros. Eles também não gostam de ver a mulher sobressair-se. Não suportam o sentimento de inferioridade. Já lhes é difícil reconhecer o mérito alheio quando se trata de outros homens; imagine quando se trata de mulheres. Em outras palavras, homem não gosta de perder para homem, que dizer de perder para mulher? Neste aspecto, falta-lhe maturidade. A relação é uma união para compartilhar, não uma disputa que se abre para ver quem manda mais, quem dita as regras, quem é mais importante.
Pode-se dizer que homem que tem medo de mulher livre, por receio de traição, não é um homem livre. Não há garantia de que a mulher não vá trair, mas também não há certeza de que o faça. Assim, o medo não se justifica. É até mesmo pior, pois cria na mente do homem tamanho desassossego, tanto desgaste emocional, que o leva a agir de forma destrutiva para a relação. A morte é certa para todos, porém não tem sentido viver preocupado com ela. Num relacionamento amoroso, cabe a cada um dar o melhor de si, sem se deixar dominar pelo ciúme e/ou pelo mandonismo. Quem gosta precisa confiar. Uma relação sadia é construída sobre uma base de confiança recíproca. Se, ainda assim, houver traição, paciência. Quem não sabe ser dono de si, seja ele ou ela, é que deve sentir o peso da culpa pela quebra da confiança. Em regra, a mulher trai quando a relação está deteriorada por culpa do homem. A traição feminina revela carência. Já o homem costuma pular a cerca mais por impulso, mas deve pensar se realmente vale a pena; é muito melhor desfrutar do prazer da paz de espírito, que é perene, e do que do fugaz prazer carnal clandestino. Isso é algo bem definido na mente de quem sabe ser livre. Como diz o poeta, tantas mulheres eu tive, tantas eu quis, bastava uma para eu ser feliz. A noção equivocada do que é liberdade talvez seja o grande obstáculo para uma convivência harmoniosa entre homens e mulheres. Será necessário voltar ao tema uma vez mais.
*Paulo Pereira da Costa, promotor de Justiça paulopereiracosta@uol.com.br