Assim como ocorre com outros termos do linguajar médico, atualmente a palavra “bipolar” tem sido usada para descrever pessoas que mudam de opinião, apresentam oscilações de humor ou simplesmente têm reações inesperadas no seu dia a dia.
É comum ouvirmos numa mesa de bar a afirmação “eu sou bipolar” ou “fulano de tal é bipolar”, seguida de um caso no qual a pessoa mudou de ideia ou estava de mal humor. Mas não podemos confundir o uso popular do termo com o seu significado médico. Nesse caso, o termo bipolar refere-se ao Transtorno Afetivo Bipolar (TAB).
Trata-se de uma doença mental crônica, caracterizada por episódios ora de depressão, ora de euforia. Esses estados se intercalam com fases de normalidade ao longo da vida e o tempo entre os episódios tende a diminuir na medida em que a doença evolui.
Os episódios depressivos no TAB duram pelo menos duas semanas. Nesse período, a pessoa perde o interesse ou prazer por quase todas as atividades. O indivíduo também experimenta alterações no apetite e no sono, diminuição da energia, sentimentos de desvalia ou culpa, dificuldades para pensar, concentrar ou tomar decisões. Também são observados pensamentos recorrentes sobre a morte ou ideias suicidas, planos ou mesmo tentativas de auto-extermínio.
Em se tratando de TAB, a palavra euforia e o termo médico “mania” não se referem a bom humor, alegria ou entusiasmo comum na vida de qualquer pessoa. Refere-se a um estado no qual a percepção, o humor e o comportamento apresentam fortes alterações que tendem à perda de contato com a realidade.
Em estado de mania, as pessoas apresentam a auto-estima inflada, o que se manifesta em pensamentos de grandiosidade, megalomania e otimismo exagerado. Os pensamentos estão acelerados, a concentração é difícil, o indivíduo comete extravagâncias financeiras, tende a comportamentos agressivos, indiscrições sexuais e inadequações sociais.
Desde o início de uma crise, são observados sintomas como a diminuição do sono, aumento na necessidade de falar, agitação psicomotora e envolvimento exagerado das atividades prazerosas que podem ter consequências dolorosas. Delírios e alucinações também são sintomas presentes em episódios graves de mania.
O quadro é grave a ponto de causar prejuízo acentuado nos relacionamentos e no trabalho. A crise de mania exige mudança vigorosa no tratamento medicamentoso ou mesmo a hospitalização, visando proteger o indivíduo dos danos que possa causar a si mesmo e aos outros.
Há um estado intermediário, que é a hipomania, com sintomas semelhantes, mas que não chegam a ser tão graves a ponto de causar prejuízos à vida da pessoa. A hipomania pode ser experimentada como algo agradável, já que traz um sentimento de otimismo e auto-estima elevada. Contudo, muitas vezes antecede e anuncia uma crise de mania propriamente dita.
O tratamento é prolongado e deve incluir um psiquiatra e um psicólogo. Tem que ser levado a sério, pois as consequências do transtorno na vida do indivíduo portador e de seus familiares podem ser muito graves.
Os medicamentos não eliminam completamente a recorrência da mania ou da depressão, mas diminuem sua frequência e intensidade. A psicoterapia ajuda o paciente a identificar suas vulnerabilidades e a desenvolver estratégias para lidar com as dificuldades de forma a prevenir crises e evitar danos maiores.
O principal objetivo do tratamento é a manutenção do indivíduo num estado de humor que seja o habitual fora dos episódios depressivos ou maníacos. Conhecer bem como são os sintomas de cada pessoa é importante, pois costuma ocorrer uma progressão típica, que sinaliza a passagem de um ciclo para outro.
Os pacientes que compreendem o TAB estão aptos a ser mais ativos no tratamento, reconhecendo esse padrão, identificando os sinais precoces de mania ou depressão e possibilitando a intervenção medicamentosa para a prevenção ou contenção rápida da crise. Uma observação atenta também ajuda a identificar situações estressantes que devem ser evitadas a fim de se prevenir a recaída.
*Vânia de Morais Psicóloga, doutoranda em Linguística (PUC Minas, bolsista pela Fapemig), mestre em Ciências da Saúde (UFMG), pesquisadora em cognição e linguagem