Vivemos momento histórico singular, no que tange às potenciais aprendizagens democráticas. O processo do mensalão deve ser incorporado à educação política das novas gerações, para que a fé na democracia como método da vida política se fortaleça.
Se esse nosso momento histórico tão singular souber ser bem assimilado por educadores e homens públicos, de espírito republicano, alimentaremos a dinâmica de uma profunda revolução democrática, essencialmente silenciosa, que implica a gradual renovação da sociedade. Estamos nos referindo à histórica revolução de uma mentalidade cultural viciada pela corrupção, ante a qual os indivíduos, ordinariamente, reagiam com ceticismo, descrença e passividade.
Essa revolução democrática, silenciosa e gradual, que instaura a indignação e o efetivo combate às práticas de corrupção, se bem assimilada, proporcionará reviravolta em nossa democracia, ao fomentar o amadurecimento de nossa consciência politica e a construção do espírito republicano.
É preciso que as novas gerações nasçam e cresçam em contexto social e político no qual a corrupção não seja um negócio viável. Por isso, um momento histórico e uma experiência significativa na contramão da corrupção devem servir de alimento aos educadores do espírito humano.
E as luzes democráticas e republicanas capazes de serem vistas no atual estágio do processo de mensalão descortinam para um raro horizonte em nossa cultura politica: a autonomia dos poderes. Ora, o artigo 2º de nossa Constituição Federal estabelece a tripartição de poderes estatais, que devem ser independentes e harmônicos entre si. Ou seja, além de exercer suas competências, cada poder deve fiscalizar os demais a fim de preservar a harmonia. Essa moderna exigência politica da independência dos poderes vem expressa na consagrada expressão de Montesquieu, em seu livro O Espírito das Leis: “o poder deve limitar o poder, para evitar o abuso do poder”.
Assim, a atual percepção de que, em nossa democracia, essa realidade se mostra viável efetivamente é alento aos homens de espírito republicano e alimento da fé na democracia como melhor forma de organização política e atitude de vida cidadã.
Contrariamente, a indiferença e a passividade políticas, muitas vezes predominantes na esfera da educação, costumam reforçar a ingenuidade e a alienação de quem não vê alternativas ante o mesmo contexto de corrupção que se repete e se perpetua com essa conivência.
Para promovermos essa revolução silenciosa e gradual da nossa sociedade, é preciso que os profissionais da educação transformem a vida política do país em conteúdo de sala de aula, uma vez que a educação deve fomentar competências e habilidades socialmente significativas. Ora, preparar as novas gerações para a inserção politica, para o exercício da cidadania, para o mundo do trabalho é objetivo fundamental da vida educativa. Portanto, os olhos do educador devem estar no horizonte para o qual querem educar e os seus pés profundamente enraizados no contexto social, cultural e político da nação.
Assim, convidamos os homens públicos e os educadores da nova geração para que, focados no horizonte da justiça social e enraizados no espírito republicano, mergulhem nas águas de nossa cultura, para melhor educar o espírito político da juventude, formando os revolucionários que a nossa nação necessita.
*Celito Meier é teólogo, filósofo e educador