Além da velha luta para permitir que o programa oficial “A Voz do Brasil” seja transmitido em horários alternativos ou até tenha sua obrigatoriedade suspensa, os radiodifusores brasileiros trabalham hoje pela migração das emissoras de AM para a faixa de FM. A mudança de freqüência e sistema de transmissão deverá baixar custos e, como fator principal, oferecerá ao ouvinte som de melhor qualidade, com mais facilidade para o acesso à tecnologia digital. Um estudo já disponível, reserva para as emissoras de rádio os canais 5 e 6, hoje ocupados pelo VHF da televisão, que serão desativados até 2016, quando toda a TV brasileira estará digitalizada. Neles será possível o funcionamento de 57 novas estações em cada região.
O rádio AM, ou ondas médias, é o grande pioneiro e desbravador das comunicações nacionais. Suas ondas serviram desde a difusão de cultura, diversão e notícias, até a sustentação do proselitismo de revoluções, com mensagens cifradas transmitidas pelo rádio em épocas em que as comunicações eram precárias. Foi também a base para a televisão. A chegada da FM, ao longo dos anos 70, reservou à radio de AM uma função mais noticiosa e de prestação de serviços à comunidade, migrando a música para o novo formato, de melhor qualidade sonora.
Com o passar do tempo, muitas emissoras de FM deixaram o padrão musical e hoje fazem programações muito parecidas com as de AM. Mais recentemente, as grandes estações de AM passaram a transmitir sua programação também por FM. As de menor potência – 95% das rádios AM têm potência até 10 kHz – sofrem cada dia mais a interferência de outras fontes urbanas de ruídos. Com todo conhecimento de quem vive o setor, o presidente do Grupo Bandeirantes, João Carlos Saad, disse, ao participar do 17º Congresso de Radiodifusão do Estado de São Paulo, que a possibilidade de mudança para FM é importante porque “as rádios AM, especialmente as menores, estão morrendo; se você liga um liquidificador ou um barbeador, interfere na rádio, se passa um ônibus elétrico, também interfere”.
Segundo os estudiosos do tema, só no México, 181 emissoras de AM já migraram para FM e o mesmo fenômeno acontece nos Estados Unidos. A proposta brasileira é para que os radiodifusores sejam livres para migrar conforme seus interesses e necessidades da praça onde atuam. O importante é compreender o momento e não permitir que questões burocráticas possam colocar em risco um setor que tantos serviços já prestou ao desenvolvimento nacional.
O rádio AM atuou como único meio de comunicação de massa até a chegada da televisão. Depois dividiu o espaço com o FM e ultimamente ainda fraciona sua audiência com outras mídias. Mas o seu espaço de diversão e prestação de serviço é único e a comunidade não pode dele prescindir. Mude-se a faixa e o sistema de transmissão, mas não se pode acabar com o seu serviço, do mais alto interesse público…
*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)