Ao fazer essa pergunta em sala de aula, a resposta é o silêncio ou reações que fazem pensar e suscitam um universo de sentimentos. Após muito insistir na pergunta em mais de uma sala, mão tímida se levanta, de uma pessoa tímida com rendimento escolar muito tímido. O meu pensamento acolhe o silêncio e a reação dos alunos como sensata e inteligente, mas essa acolhida acontece em uma rede de sentimentos: tristeza, angústia, descrença etc.
Em seu artigo de opinião, na Folha de S. Paulo, em 13 de outubro de 2012, Helio Schwartsman escreve:
“Pesquisa da Faculdade de Educação da USP mostrou que quase metade dos alunos que ingressam nos cursos de licenciatura em física e em matemática da universidade não estão dispostos a tornar-se professores. O detalhe inquietante é que licenciaturas foram criadas exatamente para formar docentes”.
Não nos falta a ciência de o quanto os professores são reconhecidos, valorizados, estimados em países nos quais aconteceu verdadeira revolução cultural e política. Com esse apreço, tornar-se professor é sinônimo de absoluto reconhecimento, o que faz com que os melhores alunos almejem a docência.
Entre nós o quadro é exatamente o inverso. Os piores alunos, por falta de opção buscam qualquer coisa, inclusive o magistério, e assim são vistos pelos colegas. Sem atratividade, sem garantias, sem reconhecimento, o que levaria um jovem a buscar esse ato de heroísmo, martírio ou de virtude cristã medieval da mortificação de si, da renúncia à qualidade de vida material, e por que também não dizer renúncia à qualidade espiritual de vida?
Se hoje já temos déficit de professores, o que acontecerá com a educação das novas gerações? É assombroso e assustador a falta de verdadeiros estadistas, homens públicos, democratas e republicanos que estejam acima dos jogos políticos de interesses corporativistas, partidários ou individuais.
Aqui está um dos pontos cruciais. Falta vontade política, falta determinação, falta efetivo querer. No fundo, falta a opção. Ora em um país, como no Brasil, no qual 95% dos investimentos do PIB passam longe da educação e são aplicados em outros setores não há o que esperar senão o agravamento da péssima qualidade da educação. Quando o Executivo não aceita dobrar o investimento em educação para 10% do PIB, alegando que irá quebrar o Estado brasileiro, que irá onerar o caixa do governo, revela um olhar excessivamente difuso e nada focado nas revoluções que o país necessita.
É preciso maior radicalidade no olhar. É preciso estabelecer a meta, fazer a opção e construir as estratégias, pois a educação do povo não pode esperar, quando o critério é o verdadeiro desenvolvimento. A história da corrupção e a ciência dos recursos existentes no Brasil nos levam a dizer que, inicialmente, faltam somente a decisão e a fiscalização.
Ao não investir sequer 10% em educação, uma mensagem foi emitida à sociedade. E qual é essa mensagem? Parece-nos que ela assim diz: “O nosso povo já se encontra suficientemente evoluído em humanidade, em ciência, em tecnologia etc.; por isso, basta investir somente o mínimo do mínimo para não perder o que já conquistamos”. Tal mensagem revela uma visão comum a algumas pessoas que jamais deveriam fazer parte do Governo de povos que lutam para formar uma nação. E ao não investirmos em educação, o circulo vicioso se forma. Perpetua-se o mesmo.
Será que o resultado das urnas eleitorais servirá como alimento para a verdadeira esperança militante, que nasce de um autêntico desespero? É preciso maior desespero. Quem espera nada alcança de diferente. Desespero é não esperar, é nada esperar, é colocar-se na dinâmica da busca e da construção das estratégias que nos levam na direção do horizonte escolhido.
Sabemos, contudo, o quanto isso é difícil; pois, investir em educação é uma decisão que vai contra a impulsividade humana, vai contra a sede e a natural tendência da posse, da corrupção, das pulsões individualistas da libido humana. Investir em educação é colocar um freio na satisfação do imediatismo de uma consciência raquítica. Investir em educação é pensar grande, é querer humanizar-se, é querer virar gente. E o preço que se paga para virar gente, para construir uma cultura da solidariedade, da paz, da inclusão social é um preço que nosso executivo, legislativo e judiciário parecem não querer pagar.
A ótica da educação é a ótica do horizonte definido, cujo caminhar implica limites, como condição do próprio caminhar na direção do que foi estabelecido como ideal. Ora, toda decisão é cisão, implica corte. É preciso saber que o investimento em cultura, que preserva e alimenta a humanidade, implica a drástica redução no investimento de outros setores que alimentam a morte e a destruição da humanidade. E existem muitas indústrias da morte que alimentam o vício de uma pervertida economia que já não mais é instrumento e meio de humanização.
Vai aqui o nosso abraço de reconhecimento e de incentivo aos educadores e aos homens públicos que não medem esforços em sua cotidiana luta contra a impulsividade da vida animal, em favor da formação e da lapidação do espírito humano, na busca por desenvolvimento cultural, cientifico e tecnológico, na dinâmica de uma verdadeira revolução cultural e política.
*Celito Meier é teólogo, filósofo e educador