Neste mês já tivemos tantas celebrações, todas em torno do aniversário de 50 anos do Concílio. Foi lançado o Ano da Fé. E foi recordado especialmente o discurso de abertura do Concílio, do Papa João 23.
Mas entre os acontecimentos verificados neste mês, um continua ainda, e se prolongará até o próximo domingo dia 28. Trata-se do Sínodo dos Bispos.
Os “sínodos” possuem seu número, dentro de uma série. Já passaram de dez os “sínodos ordinários”, assim identificados por fazerem parte normal da vida da Igreja em nosso tempo.
Por isto, é mais freqüente usar a palavra no plural, para referir-nos a sínodos já acontecidos, ou por acontecer. Na verdade, além dos “sínodos ordinários”, já foram feitos “sínodos continentais”, e diversos “sínodos especiais”.
Ao passo que, para referir-nos ao “concílio” , costumamos usar o singular. Com isto salientamos a raridade própria de um “concílio”. É fácil acontecer sínodos. É raro acontecer concílios.
Contudo, eles têm entre si uma semelhança intrínseca de natureza e de finalidades.
Por isto, vale a pena conferir a história dos sínodos recentes, e a etimologia das palavras usadas.
Comecemos pela etimologia. Eram duas palavras que queriam dizer a mesma coisa, cada uma na sua língua, seja o grego que nos deu a palavra “sínodo”, como o latim, que nos deu a palavra “concílio”.
Nossa língua portuguesa encontra na língua grega uma fonte preciosa para expressar sentidos bem definidos. Pois bem, no grego, a palavra “sínodo” era composta de uma preposição, “sín”, que queria dizer “com”, “junto”, e do substantivo “odós”, que queria dizer “caminho”, “rota”, “estrada”.
Os gregos falavam em “sínodo” quando queriam dizer que dois ou mais caminhos se juntavam, se cruzavam, se uniam.
Foi esta a palavra escolhida nos primeiros tempos do cristianismo, quando se juntavam os responsáveis pela Igreja dos diferentes lugares, e se reuniam, buscando o mesmo rumo para a verdade e a concórdia que procuravam.
Quando os cristãos passaram a usar outra língua, o latim, traduziram “sínodo” para “concílio”. Assim, resultaram duas palavras sinônimas. Tanto a palavra “sínodo” como a palavra “concílio”, se referem a uma reunião de bispos.
Mas agora com uma distinção importante: “concilio” se refere a uma reunião de todos os bispos, e sínodo se refere a uma reunião representativa de bispos.
Uma breve referência histórica confirma o “parentesco lingüístico” existente entre as duas palavras. Foi em 1965 que o Papa Paulo VI instituiu os “sínodos”, com a finalidade de manter vivo o espírito do Concílio, de contar com a opinião e o parecer dos bispos, para a Igreja encontrar os bons caminhos que ela é chamada a percorrer.
Se era difícil convocar outros concílios, reunindo todos os bispos do mundo, seria mais fácil reunir uma representação do episcopado mundial, de vez em quando, para reviver o clima do concílio, e enfrentar os novos desafios.
Portanto, os sínodos e o concílio têm em comum a mesma finalidade. Mas é bom advertir as diferenças. O concílio convoca todos os bispos do mundo. Os sínodos só contam com uma representação de bispos.
Mas a diferença maior está no poder de decisão. Os concílios decidem, os sínodos aconselham.
Este fato limita as atribuições e as repercussões dos sínodos. Como a palavra sugere, os sínodos são para apontar caminhos. Quando o povo se reúne para uma grande procissão, se a largada demora, o povo se atrapalha, e a caminhada se dispersa.
A demora na implementação dos sínodos corre o risco de perder o seu impulso.
*Dom Demétrio Valentini é bispo diocesano de Jales