Brasil e China são opostos não apenas geograficamente. Quando se trata de valorizar a indústria nacional, estas nações são também muito distintas. Abrigando mais de 1,3 bilhão de habitantes, aproximadamente um sétimo da população do planeta, a China tornou-se uma das economias de mais rápido crescimento no mundo, além de segundo maior exportador e terceiro maior importador de mercadorias. O processo de industrialização deste que é o maior país da Ásia Oriental reduziu sua taxa de pobreza de 53% em 1981 para 8% em 2001, daí a condição de superpotência emergente.
No lado oposto, o Brasil, país com dimensões continentais, o maior da América Latina, com 192 milhões de habitantes, mas que ainda patina com discussões e medidas pontuais, como a desoneração da folha de pagamentos e a redução de juros, para reverter a ineficiência estrutural de sua competitividade. As reformas econômicas promovidas no decorrer dos anos concederam reconhecimento internacional ao país, mas a desigualdade social ainda é grande e seu parque produtivo vive um momento alarmante de desindustrialização.
O Brasil é o país que exporta cacau hoje para importar chocolate amanhã. Ainda assim, é visto como um país com grande potencial de desenvolvimento, embora navegue lentamente pelos mares do crescimento, tal qual um marinheiro que se gaba pela distância percorrida, mas esquece de olhar o longo trajeto que ainda deve percorrer até a praia.
Há 200 anos, Napoleão Bonaparte profetizou: “Deixem a China dormir porque, quando ela acordar, o mundo vai estremecer”. O país ocupa a segunda posição no ranking mundial da economia, atrás apenas dos Estados Unidos. Verdade seja dita, muitos produtos comercializados atualmente têm partes, senão o todo, “made in China”. Quase como mágica, eles colocam qualquer produto no mercado em questão de semanas e com preços bem abaixo dos praticados em qualquer outro lugar, inclusive no Brasil, onde são altíssimos os custos para se abrir uma empresa, investir em maquinário, mão de obra, matéria-prima, produzir e até vender.
Qual o segredo? Um operário brasileiro custa ao empregador três vezes mais que um chinês do outro lado do planeta. E com o acréscimo de impostos e benefícios, essa conta dobra. Os chineses trabalham muito e recebem pouco. É quase um regime de escravidão – a face cruel de seu socialismo. E o mundo, inclusive o Brasil, alimenta este sistema, importando mercadoria e incentivando a produção chinesa em larga escala. Esta é a estratégia que eles utilizam para ganhar o mercado ocidental: preços absurdamente baixos, produtos por vezes com qualidade duvidosa e trabalhadores subjugados. O futuro? A China será o único parque industrial do mundo e os demais países, incluindo o Brasil, ficarão à mercê desse monopólio.
Brasil e China são países igualmente extensos, possuem ideais semelhantes de crescimento, mas exibem caminhos tão opostos. Quem está equivocado? Ambos. Na China, o objetivo é chegar ao posto de maior potência mundial, colocando em risco, inclusive, a sustentabilidade ambiental e a qualidade de vida de seus habitantes. Mas um ponto a se admirar é o incentivo dado à produtividade nacional, detentora de alta tecnologia e desempenho.
Separando o joio do trigo, é preciso seguir parte deste exemplo, fomentando a indústria e incentivando a geração de empregos, mas sempre respeitando o trabalhador e o ambiente. Aqui faltam políticas sérias para reduzir o peso da carga tributária, o número de obrigações acessórias e a quantidade de encargos sociais e trabalhistas que tanto sobrecarregam as empresas que precisam lutar a cada dia para sobreviver neste ambiente tão hostil aos negócios e à produção. Nas condições atuais, não há como a indústria brasileira competir comercialmente com outra nação emergente, menos ainda com a China.
É notório que o excesso de burocracia, regras e tributos trava o desenvolvimento, pois faz aumentar o Custo Brasil e afasta investidores. Se a reforma tributária parece distante, por que não começar pelo que é viável? Dia desses o presidente do maior banco de investimentos da América Latina, o BTG Pactual, disse que o governo tem espaço para começar agora a cortar a carga tributária de todos os setores produtivos. Desonerar a produção nacional seria o primeiro grande passo do Brasil para colocar a indústria nacional em posição de igualdade para competir com as maiores potências mundiais.
É preciso agir e parar de colecionar ideias que podem perder o poder de ação antes mesmo de sair do papel. A luz de emergência já se acendeu e, se nada for feito, as sequelas ficarão cada vez mais difíceis de ser superadas.
* José Chapina Alcazar é empresário contábil e presidente do SESCON-SP - Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo e da AESCON-SP – Associação das Empresas de Serviços Contábeis; presidente do Conselho de Assuntos Tributários da Fecomércio SP