O governo de São Paulo reagiu fortemente aos crimes que vêm assolando o estado paulista. Finalmente, achou o principal responsável pelos ataques do crime “desorganizado”: a imprensa e os partidos de oposição. Em entrevista coletiva, Geraldo Alckmin veio a público para falar das mortes, mas ao invés de mandar uma mensagem de conforto às famílias, preferiu falar sobre das estatísticas de São Paulo que colocam a cidade como uma das capitais com menor número de mortes por mil habitantes.
Em entrevista ao Canal Livre (12/ 11/ 2012) o comandante da PM-SP, coronel Roberval Ferreira França, desqualificou a organização criminosa e disse que o PCC é apenas uma das dezenas de organizações criminosas desmanteladas pela PM-SP. No dia 19 de novembro de 2012, no mesmo Canal Livre, o coronel da reserva José Vicente veio a público para dizer que a polícia paulista possui muito mais informações que a Abin. Logo depois, disse com todas as letras que o governo federal não tem como ajudar na crise da Segurança Pública de São Paulo. Afinal, afirmou, o governo do PT vai contabilizar 1 milhão de mortes. Ou seja, de acordo com o governo de São Paulo não há problemas de segurança, não há PCC, as mortes são muito poucas comparadas ao tamanho do estado e tudo é culpa do governo federal petista e da imprensa que super-dimensiona a coisa.
O Fantástico do dia 18 de novembro fez questão de encenar a execução de Paulo Batista do Nascimento, de 25 anos, servente de pedreiro com condenações por roubo, receptação e falsificação de documentos. A reconstituição do crime foi detalhada usando imagens em 3D e depoimentos de pessoas que não quiseram se identificar. O crime levou os policiais paulistas a perderem a farda e serem levados a julgamento. O comandante da PM-SP sentenciou: “Esses policiais militares deverão ser processados, demitidos ou expulsos da corporação.” Já o governador Geraldo Alckmin criticou: “Isso é intolerável.”
Vai faltar gente para votar em 2014
E surge a pergunta: até quando iremos aguentar tanta hipocrisia das autoridades? Fernandinho Beira-Mar recebia visitas íntimas de quatro amantes, que levavam suas ordens para fora do presídio federal. As mortes de policiais crescem exponencialmente em São Paulo, bandidos matando policiais para pagar dívidas com traficantes presos, ônibus sendo incendiados em Santa Catarina, assassinatos descontrolados na Bahia, violência em todo canto, insegurança... Mas nada disso comove os governos, que enxergam corpos como meros números numa estatísticas dividida por cem mil habitantes.
O assassinato de policiais vira estatística. A execução (criminosa) de um marginal, matéria do Fantástico. Para piorar, a incompetência das autoridades paulistas criou uma nova moda: culpar a mídia. É a imprensa que está “espetacularizando” os números. “O problema não é tão grande como está sendo colocado”, afirmou o coronel José Vicente.
A verdade é que o desmando e a falta de habilidade do governo paulista levaram o Brasil a presenciar o possível “fim do pacto com o PCC”, que eles também insistem em dizer que não existiu. Está aberta a temporada de caça a policiais em São Paulo. E enquanto o governo insistir em não admitir a existência do crime organizado, que o pacto com PCC não era lenda, que os traficantes presos não estão incomunicáveis e continuam comandando o crime do lado de fora, que é preciso rever urgentemente o nosso Código Penal e, principalmente, as punições para criminosos de facções criminosas, as mortes continuarão. É preciso entender no Brasil que os partidos políticos devem deixar suas diferenças nas urnas. O governo federal, do PT, e o estadual, do PSDB, precisam combater o crime para o bem dos seus eleitores. Senão vai faltar cada vez mais gente para votar em 2014.
Enquanto isso, na Bahia
Na Bahia o descontrole já é uma realidade. Na hora do almoço, a TV baiana prepara um cardápio cada vez mais variado de crimes para os espectadores. Policiais morrem por todo o estado, quase diariamente. A bandidagem perdeu o medo da polícia. Nessa guerra civil onde uns tem o direito de matar, de não criar provas contra si, de mentir em juízo, de usar menores para efetuar crimes, de ter visitas íntimas, auxílio cadeia e celulares, do outro lado da trincheira, profissionais mal remunerados e equipados, precisam prender àqueles que querem matá-los.
E nessa luta onde a “caça” deve seguir regras (ou burlá-las de forma muito discreta), os caçadores desregrados vão continuar fazendo a festa, nessa desordem que virou o nosso progresso. Mas a culpa é da imprensa que noticia essas coisas, não é Alckmin?
*Erick da Silva Cerqueira é publicitário e colunista do portal OxenteBahia.com