O governador paulista Geraldo Alckmin e a presidente Dilma Rousseff prometem parceria para combater a violência em São Paulo. No caso, promessa não é dívida. Uma presidente que há mais de um ano comprou um caro avião sem piloto para patrulhar a fronteira por onde entram armas e drogas e o deixa parado; um governador que nega que o crime organizado domine os presídios e dá força a quem lhe diz que a violência é eventual e diminui, que parceria podem fazer?
Se o Governo Federal fizer o que lhe compete, combater o contrabando de armas e drogas (e usar instrumentos de que dispõe, mas que deixa sem uso); se implantar um sistema nacional que unifique as informações policiais; se o Governo estadual começar a reconhecer que enfrenta criminosos organizados, cujo poder emana das prisões e se espalha pelas cidades, com poder para determinar sentenças de morte contra policiais; se resolver a estúpida rixa entre policiais civis e militares; se investir na área de informações, aí pode haver parceria. Sem isso, estarão jogando para a plateia. Falam em segurança e só pensam em eleição.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, diz que ofereceu ajuda ao Governo paulista. O secretário da Segurança paulista diz que não recebeu oferta alguma. Alguém falta à verdade. O Ministério da Justiça discretamente parou de monitorar as torcidas organizadas, suspeitas de acobertar o pessoal do crime. O Governo paulista insiste em dizer que não há guerra entre policiais e bandidos.
Enquanto isso, policiais são mortos nas ruas. Mais de cem em apenas um mês.
Mudando de conversa
Quem assistiu ao horário gratuito pôde ver, entre os feitos do candidato tucano José Serra, a transformação de favelas em bairros. Um exemplo sempre citado: Paraisópolis. Mas acabaram as eleições, o Governo (tucano) determinou a ocupação de Paraisópolis pela PM, por ser de lá que partiam as ordens para o assassínio de policiais.
No noticiário, Paraisópolis voltou a ser favela.
Interpretação
Em Paraisópolis, pertinho do palácio do Governo paulista, foram encontradas listas de policiais - ao que tudo indica, marcados para morrer. O secretário da Segurança insiste: os criminosos estão na cadeia, dispersos, sem poder nenhum.
Paga e não entrega
A Anatel resolveu endurecer: seu presidente, com cara de bravo, disse na TV que de agora em diante as operadoras de banda larga são obrigadas, sob pena de multas severas, altíssimas, ferozes, a fornecer 20% da velocidade combinada. Isso vai aumentar: daqui a alguns anos, quando o São Cristóvão for campeão carioca, terão de fornecer, por bem ou por mal, 60% da velocidade combinada.
O curioso é que o cavalheiro falou isso a sério. É como se a fornecedora tem uma espécie de estoque de banda larga. Se muitos clientes consomem ao mesmo tempo, não consegue atendê-los; faz então um racionamento, reduzindo a parte que toca a cada um. Só que: a) as empresas de água e de energia elétrica também estão sujeitas a uma entrada em massa de clientes em determinados momentos, e nem por isso têm o privilégio de racionar à sua vontade a entrega do produto; b) se eles entregam uma porcentagem, como é que cobram o preço inteiro? Vamos organizar esta, digamos, bunga-bunga: também queremos pagar menos que o preço combinado, já que o produto não foi entregue. Há algo mais justo?
A lei, ora a lei
Este colunista, de Direito, só sabe que o Supremo é também conhecido como Pretório Excelso. Mas essa história de vender pelo preço inteiro e entregar só uma parte da encomenda não estaria prevista no Código Penal?
Maldita aritmética
Jornalista acha que sabe muito, Internet sabe mais. Por exemplo, no portal do TSE está o patrimônio declarado de cada candidato. Luiz Marinho, PT, reeleito para a Prefeitura de São Bernardo, declarou patrimônio total de R$ 52.165,10.
http://divulgacand2012.tse.jus.br/divulgacand2012/abrirTelaPesquisaCandidatosPorUF.action?siglaUFSelecionada=SP
Também está no TSE a lista de doadores - pessoas e empresas. Luiz Marinho doou R$ 1.175.000,00, em 27/8, ao Comitê Financeiro do PT de São Bernardo.
http://inter01.tse.jus.br/spceweb.consulta.receitasdespesas2012/abrirTelaReceitaComite.action
Internet sabe muito, candidato sabe mais. Só ele saberá dizer como doou mais de R$ 1 milhão tendo patrimônio de R$ 52 mil.
Que tal repetir a pesquisa com outros políticos? É instrutivo!
Chutando o balde
O senador tucano Mário Couto, do Pará, fez um discurso incendiário no início desta semana: disse que gostaria de cuspir na cara de seus colegas senadores corruptos, que enriqueceram roubando o país e são hoje donos de jatinhos, mansões, fazendas cobertas de bois.
OK: Mário Couto não precisa cuspir na cara de ninguém. Basta dar o nome dos desonestos e os indícios de que dispõe, para que haja repercussão e processo. Ou renuncie ao mandato, por fazer denúncias sem provas. Denúncia vazia não serve para passar o Brasil a limpo.
*Carlos Brickmann é jornalista