Todas as tradições religiosas trazem, na sua herança cultural, modos de retratar a vida humana e a natureza. Ciclos, estações, festas, acidentes de percurso são associados a ritos, mitos e celebrações.
Dentro da tradição cristã, chamamos de Ano Litúrgico, o calendário eclesial que se inicia no primeiro dos quatro domingos que antecede o Natal. Nada similar ao calendário que fora reformado pelo Papa Gregório Magno e leva seu nome, o calendário gregoriano, que se usa oficialmente em todo ocidente e tem início no primeiro dia do mês de Janeiro.
Como a Liturgia é a celebração do Mistério Pascal de Cristo, o centro, o “domingo do ano litúrgico”, acontece na Semana Santa, quando a Igreja toda se volta para seu mistério fundante: Vida, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Tendo como princípio atualizar as ações de Jesus Cristo, vário ritmos são introduzidos aos fiéis com o intuito de construir um caminho mistagógico (pedagogia da mística) para o encontro pessoal e comunitário com o projeto do Reino de Deus.
A tradição hebréia, da qual somos herdeiros, nos trouxe o conceito que as coisas mais importantes não devem estar nem no começo, nem no final, mas, sim, ao centro. Por isso, o ano Litúrgico tem no seu centro a Páscoa do Cristo da Morte à Ressurreição e, para cada um dos seus tempos fortes, momentos de preparação e guarda.
No empenho, de lembrar a humanidade do Filho de Deus, Verdadeiro Homem, Verdadeiro Deus, o novo ano Litúrgico se inicia com a preparação para Festa do Nascimento de Jesus Cristo, o Natal, que é celebrado há quase vinte séculos no solstício de inverno do Hemisfério Norte, aproximadamente 25 de Dezembro.
Sendo assim, o próximo Domingo, 2 de Dezembro, marca, pois, a entrada do Novo Ano Litúrgico, trata-se do Primeiro Domingo do Advento, quando a Palavra de Deus nutrirá nossas Celebrações Eucarísticas com intuito de sensibiliza-nos da espera que Israel tinha pelo seu Cristo.
Mas, embora o Enviado, o Messias encarnado, o Deus-Conosco já tenha nascido, vivido e morrido por cada um de nós, o ritmo litúrgico nos entroniza na angústia de cada coração que espera de Deus uma resposta segura e presente em sua realidade existencial.
Nutridos do sentimento partilhado com Israel, procuramos, nesta preparação, renovar nossos compromissos comunitários e fraternos. Pois, a espera não pode ser encarada como demora, mas como tempo oportuno da Graça de Deus, que mesmo sem ser reconhecido por todos, já viera à Israel, encanando-se no seio da Virgem Nazarena e manifestando-se em cada ação do seu povo.
Os ritmos da oração e da liturgia nas religiões servem para que nosso cotidiano ganhe, de tempos em tempos, um sentido renovado. Mesmo não comungando da mesma fé, homens e mulheres podem apoiar-se na herança cultural cristã para rever suas ações, seus compromissos existenciais, familiares e sociais para, neste tempo oportuno desenvolver-se e serem mais felizes.
Se uma canção pede um ritmo, se o corpo nos impõe ritmo, também nossa existência interior é ritmada por uma constante evolução, momentos de grito e de silencio, momentos de rever e momentos de agir, momentos de ser e momentos de estar. Pois, só quando há movimento, há vida.
*Padre Marcio Tadeu Reiberti Alves de Camargo é pároco da Paróquia Senhor Bom Jesus