O princípio da solidariedade precisa ser, cada vez mais, assimilado como eficiente força para combater a violência. Também deve ser entendido como medida eficaz, ainda que a médio e longo prazo, para impedir que a cultura da violência seja o tecido configurador da sociedade. A Doutrina Social da Igreja Católica ensina que a solidariedade aprimora a sociabilidade, além de contribuir para promover a igualdade de todos em dignidade e direitos.
A força da solidariedade, capaz de reverter os quadros de violência, cresce quando todos cultivam a consciência da ligação e dependência existente entre povos, nações e pessoas, em todos os níveis. Trata-se de convicção incontestável, que guarda uma força a ser explorada e cultivada. Para visualizar essa interdependência, basta pensar a força dos meios de comunicação, que facilita contatos e intercâmbios em tempo real. A comunicação interliga povos geograficamente distantes, estabelecendo relações que configuradas construtivamente produzirão uma cultura com força de solidariedade.
Há, indiscutivelmente, uma contramão nessa realidade. É lamentável, por exemplo, que a força da conectividade sirva para espalhar notícias falsas, enganosas, que prejudicam a vida de pessoas, grupos e instituições. É grande o desafio para canalizar o uso dessa força de comunicação na promoção da cultura da solidariedade, pelo amor à verdade, respeito à dignidade sagrada e intocável de cada pessoa. É importante evitar que a maravilha da telemática sirva em primeiro lugar a formas de exploração, corrupção ou opressão.
A solidariedade não é um bem meramente teórico. Tem incidências fortes na vida de cada pessoa na medida em que é entendida, assumida e vivida como virtude moral. O ponto de partida é considerar a importância das relações humanas. Por isso mesmo, a Doutrina Social da Igreja sublinha que a solidariedade deve ser tomada como princípio social. Assumida como um princípio, torna-se força capaz de ordenar instituições, transformando estruturas de dominação em dinâmicas de solidariedade, a partir da mudança de leis, de estruturas políticas e das regras de mercado.
Quando se fala de uma pessoa diante da outra, em ondas crescentes, tecendo as relações sociais e humanas, em diferentes ambientes e circunstâncias, a solidariedade se torna um princípio moral. A consequência é a convicção e a conduta que assume, por sentimento patriótico, por razões de fé e por estatura humanística, o bem comum como compromisso prioritário e inadiável. Cada um se torna responsável por todos.
Sem a solidariedade, não tem jeito da sociedade se corrigir, dar um novo compasso ao seu ritmo e manter acesa a chama do sentido indispensável de respeito. É incontestável a estreita ligação entre solidariedade e bem comum. Ser solidário é ter a capacidade de reconhecer a exigência do respeito à liberdade humana, o sentido da partilha e o compromisso do crescimento de todos e em todos os sentidos. Também a Doutrina Social da Igreja ensina que os homens deste tempo devem cultivar a consciência do débito que têm para com a sociedade. Isto é, todos tem o dever de criar condições favoráveis para a existência, cultivar a alegria de viver.
Este sentimento de débito é a indicação de que devemos aperfeiçoar nosso agir social. Um agir qualificado é a compreensão nobre da própria responsabilidade social e política pela definição de uma vida vivida como dom para os outros. É bom lembrar que o caminho da solidariedade gera estadistas, santos, honestos, construtores da sociedade, produtores da cultura e da paz. Pessoas que trilharam o caminho da solidariedade e fizeram de suas vidas um dom precioso, permanecem como fonte inesgotável de memória inspiradora, dando continuamente lições para que a humanidade não perca o rumo na construção da paz. Ser solidário é a mais nobre e dignificante escolha humana.
*Dom Walmor Oliveira de Azevedo é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte