A primeira prova obrigatória do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), realizada para conseguir o registro profissional, comprovou o que já se sabia extraoficialmente: mais da metade dos estudantes de medicina, por ocasião da conclusão do seu curso, não atende às mínimas condições para o exercício da profissão. A prova deste ano trouxe como resultado um dado alarmante: 54, 5% dos alunos foram reprovados, por não atingirem os 60% de acertos, em uma prova de 120 questões objetivas.
Assusta-nos, mais uma vez, a normalidade, a passividade ou a indiferença prática dos Ministérios da Educação e da Saúde diante desses dados, que são recolhidos há sete anos, desde 2005, quando a prova foi realizada pela primeira vez. Talvez ainda mais alarmante seja o fato de essa não aprovação não ser impedimento para exercer a profissão. Se considerarmos ainda a inexistência de uma exigência formal de formação continuada para esses profissionais que ingressam no mundo da saúde pública, somos obrigados a reconhecer a situação e a perspectiva caótica de nossa saúde pública.
Ora, a educação, desde as origens gregas de nossa civilização, nasce com o compromisso de educar para a excelência, excelência em competências, em habilidades e no caráter humanitário do cidadão. Por isso, a grande revolução que precisamos fazer passa pelo caminho da educação.
Seguramente, entre os maiores inimigos da educação do ser humano para a excelência encontram-se a consciência do imediatismo, o espírito individualista, a falta do espírito público e, acima de tudo, a ausência de um ideal de humanidade que estabeleça exigências de permanente superação do ser humano. Parece que qualquer coisa serve, parece que basta atingir os 60%. A reação em forma de pergunta que sempre se ouve nos espaços acadêmicos, por parte de crescente número de discentes é: “Para que tanto esforço se com menos eu também consigo a aprovação?”. Infelizmente, o mapeamento dos cursos superiores feito pelo MEC, que permanece ainda muito suave e artificial, mostra que em 2011, 967 cursos obtiveram a nota 1 e 2, o que representa uma não recomendação.
Estamos muito longe da excelência, expressão que melhor traduz a concepção grega de virtude, areté. Seria ingenuidade de nossa parte pensar que os alunos, por si mesmos, buscariam universalmente essa excelência. A crise é também sistêmica, implica tanto modelo de educação e quanto de educador.
É preciso resgatar ou inaugurar certos valores relacionados com a excelência, com o rigor, com o cultivo da disciplina como processo de autodeterminação. Isso requer como condição prévia tanto a profissionalização do especialista em educação quanto a organização didática e o investimento em infraestrutura nos centros educativos.
O convite/convocação à sociedade civil não pode ser outro senão o de iniciarmos um grande pacto pela educação, com projetos de uma educação sustentável, incorporando, as exigências, os passos e as estratégias para os próximos trinta anos.
Aos educadores e aos homens públicos compromissados com essa causa nossa estima, gratidão e convite/convocação para irradiarmos nacionalmente esse engajamento.
*Celito Meier é teólogo, filósofo e educador