Quinta-feira (06/12) foi divulgado o resultado do exame do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), que versa sobre conhecimentos básicos para se exercer a profissão. A avaliação constatou que 54,5% dos alunos atingiram um resultado insatisfatório, ou seja, um acerto menor que 60% da prova. O resultado é preocupante. Apesar da prova ter se concentrado no estado de São Paulo, pode-se considerar um bom balizamento, já que São Paulo faz a “melhor” produção acadêmica no Brasil.
Em outras palavras, pode-se dizer que os formandos em medicina não possuem um conhecimento fundamental para o próprio trabalho. Temos visto um intenso debate parecido a respeito da avaliação da OAB para os bacharéis em direito. Por enquanto, evito este debate. Mas em se tratando de formandos da área da saúde é grave que estes estudantes sejam os futuros profissionais. Em muitos casos, sem demagogia, enfrentarão situações de vida e morte.
É notória a existência de uma grande quantidade de cursos e estudantes de medicina, como também é inegável que faltam profissionais em várias regiões periféricas do país. Eis aí um paradoxo! Para piorar o quadro, escutamos há pouco tempo a presidente Dilma, em um encontro com o rei Juan Carlos, afirmar na Espanha que aquele país nos próximos anos poderá enviar formandos para o Brasil, a fim de lidar com o déficit profissional.
Esta mesma conversa tem sido colocada, por exemplo, na área da engenharia, que, apesar de formar uma imensa quantidade de profissionais, ainda se verifica um déficit de 100.000 engenheiros no Brasil. O que tem levado empresas do setor a “importar” mão de obra. Países europeus e a China têm aguardado ansiosamente tais vagas.
A moral da história é que o Brasil não se preocupa com os elos: infraestrutura, mão de obra qualificada e boa formação educacional.
Numa tentativa do governo melhorar a educação superior no Brasil, ele autorizou uma abertura desmedida de cursos superiores no final dos anos 90 e nos anos 2000. Vários desses cursos acabaram fechando, ou, ao colocarem o preço das mensalidades em um valor irrisório, ajudaram a falir instituições tradicionais. Como tudo no país é para ontem, em outra tentativa desesperadora de “salvar” a educação, o MEC passou a fazer avaliações não sistemáticas dos cursos vigentes. Isso proporciona “maquiagens” de instituições, conchavos políticos e dificuldade de análises. Chega-se ao cúmulo de instituições governamentais analisarem centenas de periódicos científicos em uma ou duas semanas, com dois ou três avaliadores, determinando seu “valor” científico.
O grande problema é que não temos uma política educacional. Cotas, “ciências sem fronteiras”, “importação” de mão de obra, FIES são medidas paliativas ou que dizem respeito a ouros aspectos, mas não educacionais. Por mais difícil que seja, se nenhum governo tiver coragem para enfrentar a questão sem torná-la política (lembremos que educação nunca foi algo que desse voto, já que a classe mais abastada e formadora de opinião busca alternativas para os filhos) corremos um sério risco de ter o vexatório resultado do exame do Cremesp em todas as áreas.
*Émilien Vilas Boas Reis é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)