Faltam dois anos para a eleição, quando serão escolhidos o próximo Presidente da República, os Governadores e os Deputados. E teremos, simultaneamente à campanha, a realização dos jogos da Copa do Mundo. Os dois fatos, somados, deverão atrair a atenção da população como um todo. No entanto, Copa e Eleição são eventos totalmente distintos, embora tudo indique que haverá a exploração de um deles como ferramenta política em busca do sucesso nas urnas.
Quem quer que seja o candidato que represente o Governo, certamente ele não irá levar ao debate os custos do que o evento da FIFA está despejando sobre nós. Independente do sucesso ou da derrota no gramado, o prejuízo já estará contabilizado, seja ele na perda do sonhado título de campeão mundial, no elevado custo da construção ou reforma de estádios, seja nos estranhos reajustes de preços, seja no custo-benefício que o evento trará ao país.
Qualquer que seja a justificativa a ser apresentada, ela certamente irá tropeçar em uma pergunta simples: será que precisamos de um evento desses? Mas o processo é irreversível, é ingrato, injusto. Basta lembrarmos que em algumas cidades, Brasília, por exemplo, estão construindo um estádio cuja média de público é um décimo de sua capacidade, um seja, será um “elefante branco”. E qual o tamanho dessa “manada”? E quantos outros mais estádios estarão nas mesmas condições?
Como ou sem o troféu em mãos, cairemos na realidade de uma sociedade desgastada pelo desprezo causado pelo Poder Público, que nem sempre mostra-se atento ao que ocorre principalmente das periferias..
Como escrevi acima, faltam dois anos para as próximas eleições. O futebol poderá servir para jogar areia nos olhos da população, mas nos devemos deixar passar em branco que muita coisa precisa ser respondida, e os candidatos, principalmente do Executivo terão tempo suficiente para preparar um programa de governo consistente, com as respostas e soluções esperadas pela população à muito tempo.
Vamos torcer para que o resultado em campo não sirva para tapar os olhos de um país que tem muitas carências, e exige, de imediato, uma reforma do Código Penal, investimentos na expansão da malha ferroviária, metroviária, dos portos e dos aeroportos, implantação de uma política revolucionária na educação, saúde pública e segurança. Um país que espera um plano eficiente de controle das fronteiras para o combate ao tráfico de drogas e entrada de armas; uma mudança radical na política social, de modo a resolver o problema da população de rua; plano nacional de habitação popular, criação de uma política nacional de recuperação de dependentes de drogas;
Um país que necessita de uma drástica redução ou mesmo a total eliminação dos gastos de publicidade dos governos e municípios; um plano com prazos definidos para investimentos em saúde, educação e transporte público.
Como se vê, são muitas as nossas carências, e os candidatos terão dois anos para pensar soluções, estudar os meios disponíveis e chegar à campanha mostrando coisas palpáveis, propostas consistentes.
E os nossos argumentos estão baseados no que assistimos na recente campanha para a prefeitura de São Paulo, quando, apesar da importância dos assuntos, Mensalão e as fraudes no ENEM foram os únicos destaques, se é que podemos chamar de destaque algo que substituiu o que deveria ser mostrado como soluções para a mais importante cidade da América do Sul.
*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado