Um ano antes do pleito que elegeu a sua sucessora, o ex-presidente Lula anunciou aos quatro ventos, em ritmo carnavalesco, que o país havia conseguido a auto-suficiência em petróleo. Depoisdisso, e baseado nas descobertas feitas pela Petrobras na região do Pré-Sal, o Governo - em parceria com a estatal -lançou uma intensa campanha publicitária que, em uma segunda fase, dizia abertamente que a empresa já estava retirando o petróleo daquela região.
Em momento algum falava-se a verdade de que o petróleo apenas estaria à disposição quase duas décadas depois. O populismo, exercido a todo vapor, não apenas contribuiu para marcar ainda mais a imagem do governante, como também expôs uma outra realidade: o retorno do velho ufanismo. E, quando falamos dele, o fato nos remove aos anos setenta, período de trágica memória para todos nós.
Não é segredo para ninguém que os resultados das pesquisas feitas na região do Pré-Sal ainda não resultaram na extração do petróleo, ou seja, ainda não contribuíram para o aumento da produção. E também não é segredo para ninguém que a tal auto-suficiência em nada ajudou o consumidor no que se refere ao pagamento que efetua, sempre que encosta o carro em uma bomba de combustível.
No entanto, para destacar a imagem da empresa, fomos obrigados a ver, ouvir e ler o que o marketing nos impôs. E aí vem à mente o velho ditado de que o papel aceita tudo. Aceita? E os nossos olhos e ouvidos? E a nossa condição de incrédulos?
Sei que como deputado posso questionar, criticar e manifestar o nosso apoio ou a nossa contrariedade. Mas, apesar disso, fica difícil entender determinadas situações. Uma delas foi colocada recentemente por um morador da região de Ribeirão Preto, grande produtora de cana. Por que o álcool ali produzido tem que ter o preço determinado pela Petrobras, no Rio de Janeiro? E esse cidadão torna-se mais contundente: -“Por acaso os dirigentes da estatal já viram um pé de cana, sabem como é feito o cultivo, como é feito o açúcar, ou o álcool?
Confesso que não posso responder, por não ser do ramo, e por não ter qualquer vínculo com a Petrobrás. No entanto, fico com algumas dúvidas que, tenho certeza, são de muitos brasileiros. Não se discute a alta capacidade da empresa na extração e refino, mas por acaso propaganda extrai petróleo? Até quando teremos que pagar por uma das gasolinas mais caras do mundo, enquanto vemos a Petrobras, com o governo a reboque, vendendo uma imagem que em nada nos beneficia?
Sem respostas, temos poucas alternativas. Aceitamos a situação manifestando o nosso orgulho, nos rendemos ao ufanismo, característico dos anos setenta, e cabisbaixos vamos exercendo com dignidade a infeliz condição de ingênuos consumidores da gasolina mais cara do mundo. Para o delírio do governo que nos incentiva apenas a aplaudir o carro alegórico.
*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br