Os mais próximos da presidente Dilma Rousseuff dizem que ela não se preza pela finesse, mas, convenhamos, ela tem tido uma postura bastante sóbria em relação às questões governamentais. Entretanto, na sexta-feira passada (07/12) ela perdeu a compostura. A revista inglesa “The Economist”, uma das mais respeitáveis na área de economia, criticou o pífio crescimento econômico brasileiro do último trimestre, que foi de 0,6%. Com isso, o crescimento brasileiro no ano deve girar em torno de 1%. Além desta crítica a revista sugeriu à presidente Dilma que demitisse o ministro da Fazenda Guido Mantega. Tal conselho foi o que mais irritou a presidente.
No mesmo dia, em uma entrevista enfurecida, Dilma criticou a economia européia (que, sabemos, está em frangalhos!) como uma espécie de contraponto à economia brasileira. A mandatária também esbravejou que uma revista estrangeira não tem o “direito” de falar sobre a economia e o governo brasileiro, já que seu governo havia sido eleito pelo “voto democrático da população brasileira”, dentre outras bravatas.
Em primeiro lugar, a publicação inglesa não constatou nada de novo. A economia brasileira cresce a 30 anos de maneira ridícula. Entre 1980, cujo crescimento do PIB chegou a 9,2 %, no governo do folclórico Figueiredo, e 2011, em que o crescimento chegou a 2,73%, a média de crescimento do PIB brasileiro foi de 2.81%.
Além do mais, não há qualquer indelicadeza em um órgão de imprensa sugerir, pedir ou clamar por ações governamentais, mesmo que estrangeiro (suprindo até uma falha da imprensa brasileira de não ser mais incisiva nas abordagens). Talvez Dilma tenha perdido uma ótima oportunidade para justificar ao “povo que a elegeu democraticamente” porque o crescimento brasileiro foi tão aquém do esperado por seu próprio governo. Uma sociedade democrática depende desta dialética governo – súditos – governo. Caso contrário, a impressa se torna órgão oficial do governo vigente.
Mas não é só ao seu eleitor brasileiro que Dilma deve uma satisfação. Os investidores estrangeiros estão receosos. Não se deve esquecer que o Brasil depende e muito de investimento estrangeiro. A lógica é simples: com insegurança não há investimento, sem investimento não há crescimento. Na verdade, quando o governo vem a público falar de economia é para comentar ideias mirabolantes como o já “famoso” trem bala, que tem uma previsão orçamentária de até R$ 50 bilhões, ou para explicitar a excessiva intervenção em determinadas áreas, como a petrolífera, fazendo com que os papéis da Petrobras evaporem.
O que temos percebido nos últimos anos é que o Brasil cresce (quando cresce) por inércia (depende da economia mundial). Falta aos governos brasileiros mais ímpeto para lidar com o crescimento econômico. Um dos grandes entraves para o desenvolvimento é a falta de infraestrutura. Faltam, por exemplo, portos, estradas e ferrovias, elementos fundamentais para a economia. Outro problema é que o país também possui uma das maiores cargas tributárias do mundo, sem muito retorno para a população.
É necessário que os governos brasileiros se exponham mais em matéria de economia. Estamos aguardando.
*Émilien Vilas Boas Reis é mestre e doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul