Feriadão brasileiro. Dia para descansar ou visitar parentes de outros bairros e cidades. E todos têm o direito de folgar neste dia. Todos não! Acho que motoristas de ônibus e maquinistas não podiam descansar neste dia. Deveriam ganhar em dobro para prestar serviço, pois imaginem vocês, São Paulo sem trem ou metrô. Conseguiram? Não existe. A cidade para. Não estou dizendo que dia 15 de novembro não houve transporte. Estou afirmando que dia 15 de novembro, o Metrô e Trem se superaram em peso e tempo. A CPTM para deixar muitos folgarem, o tempo de espera foi de 20 minutos e nas baldeações, aí que estava o problema, um trem para partir esperava dois para chegar. E cá entre nós, já são lotados por natureza, imaginem com menos “minhocas” se locomovendo?
O fato era que estava partindo ao São Joaquim e estava em Jundiapeba, Mogi das Cruzes. Tive de embarcar em um trem que tem sentido a Guaianases. Lá, baldearemos para outro trem que vai até a LUZ.
Pois bem, no trem em Jundiapeba, sento – me com beleza, pois estava quase no inicio da linha, mas com o passar das estações, aquilo é uma loucura. Sentado e aconchegado e com um livro na mão para ler, escuto uma música típica de bairros de classe baixa, o funk. Aquele ritmo entrava em minha mente com uma faca, abrindo e cortando meus tímpanos e culminando meu cérebro. Minha imaginação faria me levantar e dar um “sacode” no rapazinho. Mas minha realidade é outra, faz me ficar sentadinho e sem reclamar. Isto acontece por dois motivos, um porque não sou violento e o outro é porque não aguento um soco.
Então ele conseguiu. Parei de ler. Foco no funk e a letra era assim “Minha vida é uma merda... merda, meerda, minha vida é uma merda”. Meus ouvidos também! Mas o que faz um cara escutar um ritmo com esta letra? É melhor não falar! Olho firmemente a todos. Tenho certeza de que grande parte quer fazer o rapaz engolir aquele instrumento. Toca-se um sinal no trem e o maquinista diz: “ATENÇÃO: É PROIBIDO OUVIR MÚSICAS COM SOM ESTÉREO”. RESPEITE. Quando ouvi, desta vez ri e todos olharam para o rapaz, mas mesmo assim A VIDA DELE É UMA MERDA!
O trem foi lotando ao passar das estações, o som foi ficando mais abafado, não deu mais para metralhar o rapaz com o olhar. Ele desceu em Ferraz de Vasconcelos. Ufa! Subiu nesta mesma estação, uma menina com um fone gigantesco na orelha, balançando a cabeça, no sentido de quando alguém quer falar sim. Tão rapidamente e verifico que a cabeça dela se remexe ao som de um ritmo frenético e avassalador. Minha imaginação, mais uma vez, desperta. Daria tudo para saber o que estava ouvindo. Lembrando que é comum ver pessoas com fones de ouvidos nos trens e metrôs. Guaianases se aproxima e fui me levantando, quero dizer, tentando me mobilizar. A coisa estava feia, ou melhor, cheia!
Ao desembarcar, verifico que já há outro trem na plataforma ao lado, o qual vai para a estação da LUZ. Mas já existem pessoas sentadas e bem aconchegadas e nós, deste trem, ficamos em pé. Estava tão apertado que fiquei perto da porta e tinha ainda uma multidão para entrar. O trem que pegamos em Jundiapeba já saiu da plataforma e ficamos lá, de pé e sendo “bulinados” por todos. Abri os braços como a asa de uma galinha. E com um olhar cínico dizia: Desculpe. Minha mente indicava outra coisa.
O trem ainda não partiu. Continuamos esmagados e esquecidos e aquela menina que estava chacoalhando a cabeça com o fone, estava ali do meu lado e com as mesmas expressões. Acho que estava dizendo “Dane-se tudo isto! Eu tenho o maior fone do Brasil!” Notei que na plataforma que desembarcamos, chegou um novo trem e mais inchado do que nunca e vi, um grupo de búfalos saindo correndo dele e vindo em direção a nós. E adivinhem? Fomos levados pela correnteza e minha estrutura óssea, fez com que eu chegasse no meio do trem. Resolvi não me segurar nas barras, meu braço não alcançava mais e não tinha direção. Então, apoiei nas pessoas mesmo, sempre com um sorriso e um DESCULPE.
O trem fecha a porta. É hora de partir. A sardinha estava recheada. Noto que os televisores do metrô passa um programa superprodutivo: Cães brigando. Não se ouve nada, mas se vê cães se pegando. Tem sentido? Quando passamos em Itaquera, avistamos o estádio do Corinthians e o cara gritou – F...-SE CORINTHIANS! E uma mulher que estava sentada disse:
- Quanto dinheiro jogado fora. Com este dinheiro dava para comprar mais trens e ônibus. – Ela estava falando com uma jovem, deveria ser parente, mas muitos riram e se intrometeram na conversa.
- Para quê? – Disse um senhor. – O governador anda de Helicóptero e sozinho. E ainda não vai pagar para ver os jogos.
A senhora que fez o comentário rio amarelado, mas decidiu puxar conversa:
- Eu sei! Por que ele não coloca mais gente para trabalhar no feriado? Olha isto aqui!
- Senhora – disse o senhor – não reclame, pois a senhora esta sentada. Dê uma “oiada”, eles estão “pió”
- Não voto mais neste governo!
- Tomara que não! – Respondeu uma jovem que estava em pé e com uma mochila no meio das pernas.
A menina que estava com o fone, retirou como se quisesse ouvir a conversa e olhou para mim.
- Elas estão certas! Isto vai terminar. Tiramos um, só falta o outro.
Ri como se acreditasse e desci no Tatuapé a fim de esperar um próximo trem. E sabe de uma coisa? Não resolveu em nada! Estava mais lotado e não entrei. Fiquei por lá uns três trens e resolvi embarcar na lata, sem dono!
*Alex Aleluia é professor de Língua Portuguesa e escritor de várias obras