Para quem acompanha futebol, vai ser fácil se recordar do assunto. Por causa das dívidas, o Botafogo, do Rio de Janeiro ficou sem o seu estádio,em General Severiano. Agora, depois dos recentes Jogos Panamericanos, o clube ganhou um presente, o Engenhão, construído com dinheiro público. E, a exemplo do que ocorreu com o seu estádio, no passado, o clube enfrenta dificuldades para mantê-lo.
Movidos pelo entusiasmo de realizar uma copa do mundo em casa, continuamos de olhos vendados para os absurdos que se repetem. Estamos construindo estádios com uma capacidade muitas vezes maior que a média de público dessas cidades. E gastando muito acima do que era previsto. E podemos ter a certeza de que, depois da porta arrombada, estaremos todos pedindo uma investigação sobre os custos dos estádios e, principalmente da “Copa da FIFA”.
E certamente, a exemplo do que ocorreu na África do Sul, onde o país gastou o que não poderia ter gastado, e o fez apenas para atender aos luxos da FIFA, finda a competição teremos alguns “elefantes brancos” a enfeitar a paisagem de algumas cidades, muitas delas se ressentindo de investimentos em outros setores que não o esportivo.
Quantas escolas, quantos CEUS, quantos hospitais poderiam ser construídos com o que estamos gastando para atender aos interesses da FIFA? Quantas empreiteiras estão se beneficiando nesse jogo de interesses que envolve o futebol? A exemplo do que ocorre com o Sambódromo do Rio de Janeiro, que mantém atividades extra-samba durante o ano, quantos e quais estádios poderão ser usados pelo Poder Público, no período sem atividades esportivas? Quantos serão abertos à comunidade?
Temos noção de que as respostas não virão, e se vierem, estarão mascarando a verdade e tentando jogar areia nos nossos olhos. No entanto, temos que perguntar o preço do bolo, em meio à festa. E certamente teremos respostas bastante salgadas a contrapor ao recheio adocicado que é vendido ao povo. AH, o povo!
Tratado como massa ingênua, de camisa de suas cores prediletas, escudo no peito, bandeira em mãos e entusiasmo instado pela mídia, o torcedor adere ao conceito de nação com a mesma facilidade com que ofende o time adversário, sem notar que é induzido a isso; e o mais sério, instigado a consumir produtos licenciados, pagando royalties às multinacionais que bancam o circo.
Na avidez de vitórias de seu time, ele exige garra e luta, amor à camisa e vitórias, sempre. E se esquece, ou não sabe que deveria exigir de si mesmo a sede de conhecimento, fome de saber, garra na luta por seus direitos, consciência de cidadania. Mas, de bandeira nas mãos e grito pronto no peito, ele apenas sonha com um troféu que nada tem a ver com as suas carências, com as nossas carências, com a nossa realidade. Um doce engano em plena festa.
*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br