Além de dirigir nossos votos de feliz ano novo às pessoas com as quais nos relacionamos, todos nós desejamos um futuro melhor para a humanidade e para o planeta Terra, tão ameaçado pela crise ecológica. Entretanto, para que nossos votos possam ser eficazes, é importante que o nosso desejo se concretize em ações de solidariedade que levem a uma nova organização da sociedade. Nossos desejos de um futuro melhor devem se concretizar no apoio aos movimentos populares e fóruns que trabalham por um novo mundo possível.
Este ano novo encontra o mundo inteiro envolvido em uma crise que atinge as bases do sistema social e econômico dominante, joga as novas gerações em uma situação deprimente de insegurança e desemprego estrutural e ameaça destruir até as próprias condições da vida no planeta Terra. Frente a isso, o único continente no qual tem havido alguma reação e tem surgido algo de novo e importante é a América Latina. Como diz o professor Boaventura de Sousa Santos, cientista social português: “é na América Latina que tem despontado uma esperança nova para o mundo todo, um movimento que pode gerar um tipo novo de socialismo democrático para o século XXI”. Esse movimento social e político que hoje vigora em vários países como a Bolívia, o Equador, a Venezuela e outros recebe em cada país um nome diferente, mas pode ser chamado de processo bolivariano porque se inspira em Simon Bolívar, que no inicio do século XIX, liderou o movimento de libertação de vários países da América do Sul.
Todo esse movimento social começou no dia 1 de janeiro de 1994, quando, no sul do México, os índios de várias etnias maya se reuniram e fizeram ouvir sua voz contra o sistema social e econômico dominante e a marginalização secular a qual os índios estavam sujeitos no México e em todos os países do nosso continente. Essa insurreição denominada “zapatista” se tornou importante, conquistou para os índios vários direitos e há 18 anos, se mantém na resistência. Agora, no final de dezembro, milhares de índios desfilaram pacificamente em várias cidades do sul do México e no aniversário da revolução zapatista, proclamaram várias medidas de solidariedade e de articulação entre eles e os movimentos sociais do país. Nesse manifesto, afirmavam: “Somos os mesmos índios que viviam a 500 anos no momento da conquista, viviam e resistiam há 18 anos, quando começamos esse nosso movimento nacional e hoje quando ainda resistimos e nos mantemos unidos e fiéis à mesma causa. Somos os menores, os que vivem, lutam e morrem nos mais longínquos rincões da pátria, mas não nos vendemos, nem nos rendemos. Somos irmãos e irmãs, companheiros e companheiras de toda a humanidade, especialmente das pessoas que se unem nos movimentos sociais e buscam um mundo novo possível”.
Nesses dias de janeiro, em várias regiões do Brasil, comunidades cristãs populares encerram seus giros de folias e outras devoções que recordam os reis magos em sua busca de Deus. Hoje somos todos nós, homens e mulheres em busca de um novo mundo possível, esses reis magos novos, em busca do amor solidário e da paz, do qual Jesus Cristo, nascido em Belém, é um símbolo e um instrumento. Que nesse ano, intensifiquemos essa busca e avancemos nesse caminho.
*Marcelo Barros é monge beneditino e escritor