Um dia de festa, 30 anos da CUT, muita comemoração. O ex-presidente Lula estava no clima da festa, animado, comemorando. Fez um discurso inebriante.
1 - Sobre seus adversários: “Essa gente nunca quis que eu ganhasse as eleições”. Talvez por isso fossem adversários. Se quisessem que Lula ganhasse as eleições, não seriam seus adversários, seriam aliados. Ou talvez nem quisessem que ele ganhasse, mas estavam no PMDB e aproveitaram para ganhar junto.
2 - Sobre si mesmo: “Eu ando lendo muito agora”. Claro, claro. E o professor Delfim Netto está emagrecendo, e o prefeito ACM Neto está ficando mais alto.
3 - Sobre imprensa e História: “Eu fiquei impressionado como a imprensa batia no Lincoln em 1860. Igualzinho bate em mim”. Para os lulistas, ao cooptar congressistas para votar a Abolição, Lincoln fez o mesmo que o Governo do PT: usou a única maneira possível de garantir a governabilidade. Só que Lincoln para aprovar a libertação dos escravos, sem sequer pensar - um político das antigas, sem “capitão do time”, sem Delúbio, sem Boy, sem PMDB - em coisas mais modernas e permanentes, como por exemplo o Mensalão.
Mas, justiça seja feita, o ex-presidente Lula só tratou de temas políticos. As piadas que surgiram, comparando-o a um automóvel vermelho Lincoln 51, de alto consumo, ou aos cigarros Lincoln, que tiveram seu momento de glória e logo sumiram, ainda antes que se soubesse que cigarro faz mal, foram criadas por aqueles que “não queriam que ele ganhasse as eleições”.
Coisa muito injusta.
Compostura, compostura
A presidente da República e dois ex-presidentes batem boca em público sobre quem fez mais ou estudou menos, temas que não interessam a mais ninguém exceto a eles. Não é preciso recorrer a Christine Yuffon nem aos códigos de comportamento do Itamaraty para definir do que se trata: é falta de bons modos.
Cidade muda
O apresentador José Luiz Datena e o repórter Agostinho Teixeira, da Rede Bandeirantes, informaram que as unidades básicas de saúde da Prefeitura de São Paulo estão sem o kit glicemia, essencial para diabéticos. Há gente que vai morrer ou sofrer lesões irreversíveis por falta desse kit; mas, com certeza, vão dar um jeito de botar a culpa no ex-prefeito Gilberto Kassab, que embora aliado é de outro partido.
O problema mais sério é que, de acordo com documento escrito enviado à Bandeirantes por servidores públicos indignados, eles estão proibidos de falar sobre o tema ou de admitir que haja falta dos kits. Lembra a época da ditadura militar, em que a Censura proibiu a notícia da epidemia de meningite que atingia São Paulo. O prefeito Fernando Haddad, PT, continua mudo. Mas mudo apenas neste assunto. Com Gabriel Chalita, acusado de receber propina de grupos empresariais quando era secretário da Educação, Haddad tem falado.
Voa, dinheiro
Ligue a TV: propaganda eleitoral de Governos estaduais, muito mal disfarçada em “publicidade institucional”. Propaganda eleitoral do Governo Federal, explicando que não há mais miséria no Brasil (aquele sujeito que mora na rua e pede esmola ao caro leitor não passa de ilusão de óptica). O gasto dos Estados com publicidade aumentou 37% em oito anos - neste período, foi de R$ 10,5 bilhões. A verba de publicidade do Governo Federal ultrapassa R$ 1 bilhão por ano.
Feia, antipática...
A médica Virgínia Soares, coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Evangélico, em Curitiba, é antipática, autoritária, grosseira. Até agora é isso que foi provado contra ela. Está presa sob a acusação de comandar um esquema de assassínios de doentes. Dizia-se que queria se livrar de doentes do SUS para abrir espaço a clientes particulares, mais lucrativos. A base do pedido de prisão é, como de hábito ultimamente, o “grampo” de seus telefonemas. E já se comprovou que a degravação dos grampos é tendenciosa: onde a médica diz, por exemplo, a palavra “raciocinar”, a transcrição aponta “assassinar”.
...portanto é culpada
A médica é culpada ou inocente? Não dá para saber, neste momento. Mas está clara a tendência do inquérito: quem troca “raciocinar” por “assassinar”, numa frase absolutamente audível, ou age de boa-fé (o que indica que está tão convencido da culpa da pessoa que está investigando que até comete atos falhos), ou não - e, nesse caso, o inquérito não vale o papel em que está impresso. Dizem que, como pessoa, a médica é desagradável - e daí? Por isso deve ser presa?
O problema dos “grampos” é grave: a Polícia grava, transcreve, interpreta. Se a defesa pede acesso à gravação, até consegue. Num caso a que este colunista teve acesso, empresas especializadas pediram quatro anos para decupar as milhares de horas de gravação. Está na hora de gente do ramo estudar o que se pode fazer.
Novidade no ramo
O novo diretor da Polícia Técnica e Científica do Estado de São Paulo não é um legista, como seria o habitual. Nem um delegado. É um psiquiatra. Estranho? É; mas não mais estranho do que um engenheiro e político, lutando contra vários processos judiciais, na Secretaria da Saúde da cidade de São Paulo. É Brasil.
*Carlos Brickmann é jornalista