Recentemente as nossas autoridades localizaramem São Paulo, uma oficina de costura onde os trabalhadores, todos bolivianos, eram mantidos em regime de semi-escravidão. Além das péssimas condições de trabalho, em um recinto insalubre, as leis trabalhistas estavam sendo desrespeitadas e até mesmo a condição de seres humanos havia sido deixada de lado.
Os empregadores foram responsabilizados pela ilegalidade, e foram obrigados a registrar e a indenizar os imigrantes. Muitos deles haviam aceitado aquelas condições porque, estando em um país estrangeiro, nem sempre conseguem contar com o apoio da lei, principalmente quando entram de maneira ilegal. E, infelizmente, isso tem sido até rotineiro, em se tratando de muitos bolivianos residentesem São Paulo; uma grande parcela deles é explorada pelos próprios compatriotas.
Não vamos, aqui, citar algo que possa ser classificado como xenofobia. Ao contrário, temos convicção de que todos os que aqui chegam, dispostos a trabalhar, devem receber o merecido respeito de nossa gente. Não vamos nos esquecer de que nós, netos de imigrantes, sabemos o que os nossos antepassados sofreram quando cruzaram o Atlântico, em busca de novas oportunidades.
O nosso comentário vai além de tudo isso, vai além do que podemos chamar de reciprocidade. Enquanto abrimos as nossas fronteiras e os nossos braços para gente de todo o mundo, o mesmo não acontece com muitos dos nossos conterrâneos que deixam o país. Não é segredo para ninguém o que muitos brasileiros já sofreram, tentando entrar na Espanha, por exemplo. E na Inglaterra, que esta semana impôs sérias restrições a estrangeiros.
No nosso caso, aqui ao lado, com a Bolívia, não é diferente. Não podemos nos esquecer o que o governo de Evo Morales fez recentemente com as empresas brasileiras ali instaladas. Além da coação praticada contra essas empresas, praticou verdadeira extorsão contra o complacente governo Lula, que simplesmente disse “amém” às exigências de Morales. Faltou pulso, faltou garra, faltou brio.
Hoje, decorridos alguns anos, estamos, novamente à mercê do governo da Bolívia. Não estamos falando de empresas, estamos falando de pessoas. Quem conhece um pouco da vida deste deputado, sabe de sua ligação com o esporte profissional e amador. E que também é contrário à existência dessas torcidas organizadas. No entanto, agora que torcedores corintianos continuam presos na Bolívia, não podemos aceitar o que está sendo feito. Como é de conhecimento geral, em uma partida de futebol, realizada no interior da Bolívia, um torcedor corintiano atirou um sinalizador contra a torcida contrária, atingindo um adolescente que morreu no estádio.
Não defendemos a impunidade, ao contrário, queremos que os culpados sejam severamente punidos. Contudo, fica difícil aceitar que um único sinalizador tenha sido disparado por uma dúzia de pessoas. Se é verdadeira a confissão feita por um jovem que não poderia ter ido à Bolívia, se houve “armação” por parte dos dirigentes da tal torcida organizada, se é mentira a tal confissão, cabe à nossa polícia desvendar. O que não podemos aceitar é que pessoas inocentes – que certamente estão entre os doze ali detidos - sejam mantidas presas unicamente porque agentes do governo boliviano, que deveriam ter impedido a entrada daquele artifício, não o fizeram.
O que nos preocupa e que mexe com os nossos brios é a postura do governo brasileiro. Em nome de uma união pouco ou nada promissora para nós, ele aceita as imposições dos vizinhos tanto na área econômica, como policial, e finge que está tudo bem. Está? Não, não está! Não está bem quando veículos roubados no Brasil circulam livremente nos países vizinhos; quando as nossas empresas são tratadas como bandos de marginais, e que tenham contratos rasgados como se não tivessem valor; ou como acontece agora, quando torcedores permanecem presos em território boliviano sem que tenha a necessária assessoria por parte do nosso governo.
Não há dúvidas de que boa parte das tais torcidas organizadas se transformou em reduto de criminosos, de vândalos. Mas também não é justo que todos esses detidos sejam tratados com indiferença por parte de nossas autoridades. E finalizamos com perguntinhas simples: todos são culpados? E a tal reciprocidade, onde está? Com a palavra, as nossas autoridades.
*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado