O país precisa resolver uma questão que ameaça a competitividade do agronegócio – setor que sustenta o crescimento da nossa economia nos últimos anos –, a logística totalmente inadequada.
Prestes a colher a maior safra de grãos e oleaginosas, estimada em 185 milhões de toneladas, os produtores se deparam com uma situação calamitosa: rodovias, ferrovias e hidrovias em situação precária; armazéns insuficientes e portos estrangulados, o que compromete sobremaneira a exportação recorde de milho e soja.
Em recente artigo já chamei a atenção para o fato de que três áreas são necessárias para manter de pé o agronegócio: eram as condições macroeconômicas favoráveis, uma política de inovação permanente e a melhoria da logística.
A ineficiência da logística só aumenta o custo para fora da porteira. Na última semana, o valor do frete rodoviário de produtos agrícolas subiu entre 20% e 70%, dependendo da região.
O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária estima que, no Mato Grosso, a variação do preço do frete este ano possa crescer mais de 35% na comparação com o registrado em 2012.
Especialista em agronegócio e estudioso da questão da infraestrutura, o ex-presidente da Unica, Marcos Jank, calculou em recente artigo na Folha de S. Paulo (“Rumo ao pior ano da logística agrícola”) que o peso do frete rodoviário pode atingir 40% do valor da produção de soja.
A precariedade para a movimentação da safra soma-se a falta de estrutura adequada para a estocagem. Os armazéns públicos e privados apresentam um déficit de 45 milhões de toneladas. O país tem silos para estocar apenas 72% da safra de milho e soja, contra 133% da capacidade dos Estados Unidos.
Depois de colhida, armazenada e movimentada, a safra de grãos destinada à exportação ainda enfrenta filas de navios nos portos para o embarque atualmente de duas a três vezes maiores do que há um ano em Santos e Paranaguá.
Como vamos fazer chegar aos compradores internacionais as 18 milhões de toneladas a mais de soja e milho que estamos colhendo?
Os portos são neste instante o maior gargalo para o fluxo das exportações agrícolas.
Essa dificuldade demonstra cada vez mais a urgência de novos marcos regulatórios no setor de logística dentre eles a Medida Provisória dos Portos que está sob análise do Congresso Nacional; a implementação de uma política de hidrovias (como o projeto de lei sobre eclusas que está muito atrasado); a necessidade de recuperar o cronograma de ferrovia Leste-Oeste a ampliação do programa de concessões rodoviárias e assim por diante.
Já passou da hora da recém-criada EPL (Empresa de Planejamento e Logística) entrar em campo para dar um freio de arrumação no imbróglio logístico e começar a promover ações no sentido de integrar e racionalizar a utilização dos modais rodoviário, ferroviário, hidroviário e portuário.
O país precisa urgentemente de um planejamento integrado de transportes voltado para atender novos polos produtivos, especialmente na região Centro-Oeste, que nos últimos anos passa a responder pela parcela mais significativa da produção de grãos.
A melhoria das condições da logística depende ainda de estratégias casadas com o agronegócio para sustentar o crescimento desse setor, que tem contribuído com um superávit de US$ 80 bilhões para a balança comercial.
O transporte e o armazenamento dos produtos agrícolas não podem continuar sendo negligenciados. Nunca é demais lembrar que o nó logístico pode também ser desatado com mecanismos que estão ao alcance, como o modelo de concessões e de PPP (Parceira Público-Privada).
Depois de superadas as deficiências logísticas, teremos que buscar dar mais complexidade à cadeia produtiva do agronegócio, agregando mais valor aos nossos produtos agrícolas e consolidando o ciclo com o processamento dos produtos e o fortalecimento da agroindústria.
Este é o nosso passaporte para o futuro.
*Arnaldo Jardim - deputado federal (PPS/SP) e presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Infraestrutura Nacional