Crise brava entre dois vizinhos: o presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, sem perceber que o microfone estava ligado, comentou, a respeito da presidente argentina Cristina Kirchner, que “essa velha é pior que o caolho”. O caolho é o falecido presidente Néstor Kirchner, marido de Cristina.
E esta foi só a primeira falha diplomática. Em seguida, o chanceler argentino, Hector Timmerman, partiu para nova gafe: considerou “inaceitável que comentários que ofendem a memória de uma pessoa falecida, que não pode replicar nem defender-se, tenham sido feitos por alguém a quem o dr. Kirchner considerava seu amigo”. Só que Pepe Mujica não ofendeu a memória de ninguém: disse que Néstor Kirchner era caolho, e Néstor Kirchner era caolho mesmo. Caolho, no caso de Kirchner, não é ofensa, é descrição. Mujica poderia ter dito que o ex-presidente argentino tinha olhos atraentes, já que um atraía o outro; ou que se esforçava tanto para abarcar a realidade que cada olho buscava uma ponta do cenário. Mas preferiu a linguagem coloquial, embora absolutamente precisa. Teria sido indelicado, havemos de convir, se o chamasse de “aquele vesguinho”.
Já a terceira falha diplomática não tem perdão - nem do lado argentino, nem do lado uruguaio. O chanceler argentino reclamou apenas das referências a Néstor Kirchner, esquecendo-se de que o alvo dos comentários de Mujica era a atual presidente, Cristina. Deveria tê-la defendido, claro.
E Mujica foi muito grosso: qualquer cavalheiro sabe que não se deve pegar pesado com uma senhora idosa.
Compromisso compromissado
Discurso da presidente Dilma Rousseff em Fortaleza, Ceará, sobre a prioridade à educação: “Eu queria dizer para vocês, nesta noite, aqui no Ceará, em Fortaleza e nessa escola, o compromisso forte, o compromisso que é um compromisso que eu diria o maior compromisso do meu governo. Porque é que o compromisso com a educação tem que ser o maior compromisso de um governo.”
Prioridade do compromisso
Tudo tem de ser feito degrau a degrau, etapa por etapa. Por exemplo, antes de aprender a escrever, os estudantes têm de aprender a falar.
Voa, passarinho, voa
O poder provoca às vezes reações estranhas. Calígula, o imperador romano, nomeou para o Senado seu cavalo preferido, Incitatus. A rainha Victoria, irritadíssima ao saber que a Bolívia não poderia ser bombardeada pela esquadra britânica, por não ter fronteira marítima, mandou apagá-la do mapa. O presidente Lula nomeou Guido Mantega para o Ministério da Fazenda.
E o presidente venezuelano Nicolás Maduro, favoritíssimo nas próximas eleições, deu para conversar com aves. Segundo declarou, o falecido presidente Hugo Chávez, na forma de um passarinho, lhe disse, aos pios: “Hoje começa a batalha. Marchem para a vitória. Têm nossa bênção”.
Maduro contou sua conversa com o piu-piu bolivariano tendo ao lado os irmãos de Chávez, que o ouviram com toda a seriedade.
Contas incompletas
O Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, em parceria com 38 grandes jornais, acaba de divulgar uma enorme lista de famílias de políticos com contas secretas no paraíso fiscal das Ilhas Virgens britânicas. Ali estão o primeiro-ministro da Geórgia, o presidente do Azerbaijão, os filhos do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, e um dos principais arrecadadores da campanha que levou François Hollande à Presidência da França.
Mas a lista deve estar incompleta: onde já se viu uma lista de contas secretas sem a presença de brasileiros?
Boa notícia
Por falar em jornalistas investigativos, uma excelente informação: a Unesco, órgão da ONU, convidou um dos mais competentes jornalistas investigativos do país, Cláudio Júlio Tognolli, para representar o Brasil na Conferência Mundial de Liberdade de Imprensa, que começa em 3 de maio, na Costa Rica.
Ascensão e queda
Anúncios caros, nas principais redes, com difusão nacional: é a Petrobras comemorando a produção de 300 mil barris por dia só no pré-sal, nos últimos sete anos. E para que gastar dinheiro com isso, se o consumidor compra derivados de petróleo no posto, sem ter a menor ideia de onde veio a matéria-prima? Mas jogar dinheiro no ralo não é o pior: o pior é que a Petrobras esquece de informar que sua produção diária de petróleo, com pré-sal ou sem pré-sal, vem caindo dia a dia. Comparando fevereiro de 2012 com fevereiro deste ano, a produção caiu 11,7%. A queda se acelerou de dezembro para cá, com redução de 13,5%.
Como não diz a publicidade em rede nacional, meia verdade é também meia mentira.
Bom e ruim
O ministro de Minas e Energia, Édison Lobão, do PMDB, disse que vai concorrer ao Governo do Maranhão, com apoio de Sarney. Há maranhenses que não vão gostar da notícia, mas a decisão é patriótica: como governador, deixa de ser ministro. E pode no máximo atrapalhar o desenvolvimento de um só Estado.
Ruim e bom
E o ministro Aloízio Mercadante, PT, talvez tente o Governo paulista.
*Carlos Brickmann é jornalista