Já é rotina ouvir dele que fulano merece sofrer. “O castigo é pouco, pelo tanto que me fez”. Expressões como essa não passam de um grito de dor, uma pequena parcela que pode ser vista no sujeito ressentido.
É muito atraente achar que o ressentimento é um sentir de novo. Age como um eco, causando um sentimento tão latejante quanto o da primeira vez. Isso acontece nos encontros e esbarrões daquele fulano que cometeu contra ele um agravo, talvez, sem o saber.
Para o pensador francês, Roland Barthes, a coisa toda acontece no corpo imaginado. Naquela pessoa que projetamos ser, toda a vez que nos apresentamos à sociedade. É nesse corpo que “a palavra, a imagem, o pensamento agem como uma chicotada”, diz Barthes no livro Fragmentos de um discurso amoroso.
É claro que a passarela em que desfilam os ressentidos é a mesma que eu ou você faz parte, a da política. Não aquela política feita por políticos e que não deixa de produzir todos os dias os seus ressentidos, mas aquela de convívio.
Estar e interagir com o outro, seja ele um irmão, o parceiro, um amigo, um vizinho, ou até um conhecido de vista, pode expor o corpo imaginado a feridas que nunca vão cicatrizar. Infelizmente dessas feridas, só sabemos de seus gritos de dor. O ressentimento é secreto.
O segredo gera adivinhações. Igual ao que acontece naquele programa de tevê em que o objetivo é saber o que tem dentro da caixa. Antes do acerto ou da revelação, foram vários objetos que poderiam caber ali dentro. Com o ressentimento é bem parecido, mas as adivinhações não partem de quem está do lado de fora, mas do próprio sujeito ressentido. Aí se tem o princípio da inveja, da vingança ou da odiosidade, por exemplo.
Dizer que o castigo é pouco contra fulano é dizer que ele deve sofrer até o fim dos seus dias. O final feliz para o ressentido é aquele em que o seu vilão nunca morre, mas passa a vida sofrendo. Você se lembra da novela Avenida Brasil, com o que aconteceu com Carminha? Até hoje ela sofre em nossa imaginação, para o gozo de Nina.
*Igor Pedrini é Publicitário e Professor Universitário. E-mail: ia.pedrini@terra.com.br