Sexta-feira da Paixão, como o nome indica,é sexta-feira. Mas a Justiça Federal já fechou na quarta - o que inclui o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal. As Justiças estaduais e fóruns fecharam na quinta. Os milhares de processos à espera de decisão tratam de casos terrenos, que podem esperar.
Na quarta, os desavisados imaginavam que o Congresso estivesse em pleno funcionamento. Na Câmara, 368 deputados marcaram presença e garantiram seus jetons (aquela diária que parlamentar recebe quando aparece no serviço), mas presentes mesmo, às 17h, havia oito no plenário. Os demais, certamente, estavam em seus gabinetes, trabalhando ou preparando-se, em retiro espiritual, para a Sexta-Feira Santa. No Senado, 63 excelências marcaram presença, mas só seis deles se materializavam no plenário às cinco da tarde. A grande maioria dos nobres parlamentares chegaria à Sexta-Feira da Paixão, ao Sábado de Aleluia e ao Domingo de Páscoa com o espírito revigorado pelo exercício do retiro (e o corpo mais revigorado ainda pela falta de exercício proporcionada pelo descanso).
O repousante fervor espiritual de Legislativo e Judiciário talvez não deva ser criticado. Certa vez, perguntaram ao governador mineiro Hélio Garcia por que ficava mais tempo em sua fazenda do que no gabinete. Ele explicou: cada medida que deixava de tomar representava boa economia para Minas. Vale o exemplo. Dos 21 deputados que presidem comissões permanentes na Câmara, oito respondem a inquéritos e ações penais.
É até bom que trabalhem pouco.
Pegando no batente
De acordo com as melhores informações, todo o pessoal que antecipou os feriados religiosos volta amanhã ao trabalho. Sim, segunda-feira. Dia 1º de abril.
A hora do Mensalão
O ministro-revisor do processo do Mensalão, Ricardo Lewandowski, já concluiu sua parte no acórdão do julgamento. É provável que o acórdão seja publicado nesta semana, o mais tardar na próxima, abrindo-se então o prazo para recursos. Encerrado o julgamento dos recursos, cumprem-se as sentenças.
Engenhoso Engenhão
A melhor maneira de esconder um escândalo é arranjar outro escândalo com maior poder de escandalizar. Vale a pena ler a nota de um profundo conhecedor do Rio, o excelente colunista Aziz Ahmed, do jornal O Povo: “A divulgação que a prefeitura do Rio está dando à lambança que resultou na interdição do Engenhão tem um componente político articulado pela dupla Eduardo Paes - Sérgio Cabral.
Aproveitando a paixão do povo pelo futebol, os dois peemedebistas conseguiram apagar do noticiário uma trapalhada de maior gravidade, porque esconde suspeitas de conluios com empreiteiras, malfeitos e corrupção.
Trata-se do programa Minha Casa Minha Vida. Em Duque de Caxias, construíram um conjunto dentro de um charco. Em Niterói, o conjunto para o pessoal do Morro do Bumba está sendo demolido antes de ser ocupado. Em Itambi (Itaboraí), começaram a construir um conjunto com vários blocos e a obra foi abandonada”.
Alguém tem dúvida de que o problema do Engenhão sirva mesmo para isso?
As boas intenções
O senador mineiro Aécio Neves, provável candidato do PSDB à Presidência da República, conversou com a bancada federal do partido e pediu foco nas propostas tucanas. Tem razão. Só falta descobrir quais são as propostas tucanas.
Chega de intermediários
O PSDB já contratou um conselheiro político das campanhas de Barack Obama, David Axelrod, para trabalhar com seu candidato Aécio Neves. Outro americano, Antonio Villaraigosa, prefeito de Los Angeles em fim de mandato, que comandou a campanha de Hillary Clinton para ser candidata à Presidência (foi batida por Obama), também vem sendo procurado pelos tucanos.
Do marketing o PSDB está cuidando. Agora é só convencer o partido a apoiar o candidato.
A verba voa
A Prefeitura paulistana, com o petista Fernando Haddad, está demonstrando grande disposição de torrar dinheiro com propaganda. Em rádio e TV, no horário nobre (o mais caro), anunciou maciçamente a doação de um terreno para um novo campus da Universidade Federal de São Paulo. Não era verdade: o terreno existe, um dia, dizem, será doado, mas a doação ainda não foi aprovada pela Câmara. O Ministério Público Estadual decidiu abrir inquérito sobre o caso. A Prefeitura explicou que houve um engano, uma troca de anúncios: deveria ter saído um sobre saúde. Mas alguém aprovou a veiculação. Quem? Como? Silêncio.
Outros anúncios, mais baratos, são até ofensivos: apontam novos pontos de ônibus como um presente da Prefeitura para a cidade.
Quem imaginava que instalar pontos de ônibus fosse obrigação da Prefeitura certamente estava enganado.
Onde está Chávez?
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, informou oficialmente, há dias, que não seria possível embalsamar o corpo de Hugo Chávez, porque o tratamento teria de se ter iniciado logo após a morte. Não houve enterro oficial. Onde está o corpo de Chávez? Ficará no Museu Histórico Militar, sem sepultamento?
*Carlos Brickmann é jornalista