Quando eu era jovem cronologicamente (continuo sendo porque os anos vividos não me roubaram a juventude, a juventude é estado de espírito), eu lia semanalmente Seleções. Essa revista era ótima e deve ser ainda uma revista muito especial porque sempre trouxe artigos valiosíssimos. A leitura sempre fez parte dos meus dias, talvez até me atreva a escrever motivado por esse fantástico aprendizado. Recordo-me que um dia li um artigo que falava do coração do João. Não tenho na memória, no momento, o autor, mas ele queria falar sobre os problemas físicos do coração do João, com certeza, nome emprestado de algum amigo seu que representava o universo de todas as pessoas e aproveitou muito bem aquele espaço da mídia que sempre teve grande repercussão. Era um artigo muito curioso. Falava dos problemas que o João poderia ter com aquele órgão muscular que recebe e bombeia o sangue do corpo em contrações ritmadas. O comentário do articulista era sobre doenças cardiovasculares. Alertava sobre doenças das artérias coronárias, dos ataques cardíacos, anginas, aneurismas, arritmias, doenças cardíacas congênitas, entre outras. O artigo era muito oportuno porque naquela época pouco se constatava óbitos por deficiências cardiológicas. Todos que partiam o faziam de repente. Todos que morriam as causas sempre eram o “de repente”. Confesso que tive medo dessa doença. Mas não é no sentido fisiológico que quero falar do coração do João. Quero falar no sentido humanitário. O João de que falo é da mesma árvore genealógica que a minha. Ele é uma criatura ímpar. Aonde chega enriquece o ambiente. Parece que Deus quando pensou em dar-lhe o sopro da vida assobiou uma melodia junto com o sopro. Por isso saiu esse João que é orgulho dos amigos, da família e de quem tem a oportunidade de conhecê-lo. Nasceu de família média baixa porque o pai sempre precisou de trabalho para sustentar seus outros quatro filhos. Todos têm seus méritos como pessoas, mas o João tem coração diferente. O coração dele não é feito de músculo apenas, tem essência de alegria dentro. Corações alegres são sempre corações grandes, cheios de gentileza e sabedoria. A sabedoria é fruto de luz interior e isso o João tem de sobra. Tenho certeza que o coração das pessoas é o lugar onde Deus habita, onde o Céu e a Terra se tocam. Mas também acho que em certos corações Deus mora mais tempo. Nesses corações que têm a porta aberta e sem chave, Ele reluta mais em sair porque Se sente em lugar privilegiado. O coração do João é assim. O João do qual falo tem sobrenome, tem família, tem filhos e netos, que com certeza todos têm orgulho desse pai, esposo, irmão, tio, primo, e que eu tenho o privilégio de estar entre eles. Ah, o João foi levado a pia batismal pela minha saudosa madrinha com o nome de João Ruiz Tagliari.
*Professor Manuel Ruiz Filho
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