É evidente que não esperamos pela chegada do inverno para falarmos sobre o problema ambiental que afeta a todos nós, principalmente os moradores da capital paulista. A baixa umidade do ar, aliada à alta concentração de poluentes na atmosfera, tornam a vida difícil e, para o caso de idosos, a situação fica pior ainda mais. Há muito tempo dedicamos boa parte do nosso tempo como cidadão e, principalmente como parlamentar, para abordarmos o problema da poluição como um todo.
No âmbito municipal, em que pese os erros e acertos do programa de fiscalização de veículos, a situação melhorou, embora ainda esteja longe do ideal. Nos anos noventa, promovemos uma intensa campanha buscando a recuperação do Rio Tietê, e conseguimos mobilizar milhares de estudantes dos ensinos fundamental e médio, para que tivessem consciência da importância não apenas do rio, mas do meio ambiente como um todo. Na ocasião, realizamos um concurso cultural, e temos certeza de que o alvo foi alcançado. Muitos daqueles alunos ainda hoje nos escrevem, falando da importância e da conscientização resultante daquele evento.
Todos sabem que, se comparado ao passado, o rio ainda continua poluído, apesar dos intensos esforços e das verbas ali empregadas. Mas não se pode afirmar que estamos de braços cruzados. Sabemos que a luta é intensa e o Governo, com investimentos próprios e empréstimos contraídos no exterior, continua em busca das melhorias de condições, até a limpeza total do principal rio paulista. E aí surge e velha pergunta: Vai demorar? Sim, vai, mas a certeza é a de que o trabalho continua e isso nos deixa confiantes.
No parlamento, sempre manifestamos a nossa preocupação com o meio ambiente. E as nossas proposições sempre foram amplas, desde a poluição das águas, como a sonora, e também uma das mais sérias e preocupantes, a destinação dos resíduos residenciais e industriais. Sobre isso, recentemente distribuímos milhares de panfletos enfatizando a importância de prepararmos o planeta para as próximas gerações. E essa preocupação tem que ser muito ampla. Não adianta falarmos em proteger a água, se despejamos lixo nas ruas. Nada adianta condenarmos a indústria que despeja fumaça no ar, se o motor do nosso carro está desregulado, e dá a sua parcela de culpa na poluição.
A visão tem que ser ampla, e não apenas voltada para a nossa São Paulo. Quando alguém despeja poluentes em determinado lugar, geralmente ele sabe que a sujeira não ficará restrita ao município, à região, ou a aquele simples riacho. O vento ou a correnteza se encarregará de transportar a sujeira, e as consequências serão sentidas, tudo é questão de tempo. Não estaríamos imunes se jogarmos o nosso lixo em um local distante de nossa casa. Isso é irresponsabilidade. Se entendermos que é nocivo sujar a nossas ruas, por que não seria igual, quando estamos em outro bairro?
Se pensarmos em preparar os nossos filhos para que tenham um futuro melhor, não podemos virar as costas para a poluição que eles terão pela frente. Sim, porque nada irá adiantar se eles tiverem tecnologia de ponta à sua disposição, se essa tecnologia estiver coberta por lixo, ou por água suja; ou coberta por detritos que sobem às nuvens, mas que retornam em forma de algo impossível de ser respirado. O quadro é preocupante, e ele se agrava na medida em que blindamos a mente e fingimos que nada temos a ver com isso, ou seja, com a herança que estamos deixando para as futuras gerações. A sociedade precisa acordar, antes que seja tarde demais.
*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br