Hoje a qualidade do atendimento à saúde é pauta para muitas discussões. Uma questão que certamente passa pela má qualidade na formação do médico. Estamos certos de que a abertura indiscriminada de faculdades de Medicina não contribui para a solução deste problema, pelo contrário, acaba prejudicando aquele que nunca deveria ser afetado: o paciente.
Contrapondo os profissionais de saúde que realizam seu trabalho com excelência, estão aqueles que não possuem a qualificação necessária para a assistência à saúde da população. E a raiz disso está na formação acadêmica. Faculdades de Medicina que cobram mensalidades caríssimas, muitas vezes funcionam sem hospital escola, com corpo docente de competência contestável e possuem falhas no planejamento pedagógico.
É importante ressaltar que além de toda a estrutura física imprescindível, a escola médica deve ter tradição para garantir uma formação efetiva, inclusive do ponto de vista ético. Não é apenas transmitindo conhecimentos teóricos e práticos que se consolida o bom profissional, é preciso ensinar também a conduta humanista, na qual a relação médico-paciente é baseada na confiança e respeito, e não somente em um atendimento frio e desinteressado.
O médico deve amar a profissão e ter em mente que seu foco não são as doenças, e sim os doentes. Valorizar o ser humano é algo que os mestres precisam frisar aos alunos através do testemunho da sua presença. Essa conduta ajuda o estudante a ter uma melhor percepção de como se deve atuar. E infelizmente algumas instituições não oferecem uma oportunidade como essa, tão fundamental.
Enquanto a quantidade de profissionais, e não a qualidade da formação, for o centro da discussão, teremos médicos que enxergam seu trabalho sob a mesma ótica, onde os pacientes não passam de números. A saúde da população deve ser levada sempre a sério, e o especialista precisa estar ciente do peso da responsabilidade que tem nas mãos.
No entanto, ainda que a situação não seja a ideal, no Brasil temos sim muitos profissionais que são motivo de honra para a classe médica, assim como instituições sérias e de renome. Orgulho-me em dizer que a Escola Paulista de Medicina da Unifesp é um dos exemplos de qualidade de ensino, pesquisa, e assistência à população. Essa tradicional escola médica, que agora completa 80 anos, foi onde me formei, ocupo o cargo de Professor Titular em Clínica Médica e agora tenho a honra de ser diretor.
O diferencial da boa escola de Medicina é justamente o resultado do empenho de pessoas que amam o que fazem e querem passar seu conhecimento adiante. Por isso é preciso que a questão seja considerada com uma maior rigidez, avaliando com critério a abertura de novas escolas médicas, para que não tenhamos que presenciar mais uma vez os vergonhosos índices de reprovação verificados nas últimas avaliações do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
*Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica