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Artigo
A pobreza virtual
*Professor Manuel Ruiz Filho; manuel-ruiz@uol.com.br
Cada um dos três últimos séculos tem tido suas grandes revoluções. Nenhuma menos importante que a outra. No século XVIII aconteceu a era dos grandes sistemas mecânicos de braços dados com a Revolução Industrial. No século XIX aconteceu a importante evolução da máquina a vapor. A partir do século passado, mais precisamente século XX, temos presenciado até os dias de hoje a era da informação. Os avanços tecnológicos têm sido impactantes na vida de cada um de nós. A informática tem colocado no nosso dia a dia uma carga de informações extremamente numerosa, difícil até de assimilação. Nosso cérebro tem limites e nosso tempo também é limitado. Lutamos contra os dois todos os dias. Tem dia que nos esquecemos até de nós mesmos, imagina do semelhante então. A maioria das pessoas hoje anda com algum tipo de eletrônico no bolso e com ele se comunica com o mundo todo. Fica sabendo o que aconteceu no outro lado do planeta em não mais que 10 segundos. Nas mesas dos bares e restaurantes sempre encontramos pessoas teclando seus modernos computadores de bordo. Observe um fato que aconteceu com um desses personagens. Num certo dia, desses acinzentados pelo tempo, comodamente sentado numa mesa afastada do movimento de um restaurante, um senhor aparentando quarenta e poucos anos tentava aproveitar seus parcos instantes de descanso para tomar uma refeição, enquanto isso revia sua caixa de emails. Pediu ao garçom um filé de salmão amanteigado e um delicioso suco de frutas. De repende uma voz infantil fala bem perto de seus ouvidos: - tio me dá um trocado? Não tenho menino, respondeu ele. Continuou a ver seus e-mails e de vez em quando sorria pelo que havia lido na tela de seu lap-top. Ficou distraído por um bom tempo sem saber que o menino ainda ali se postava. – Tio, me dá um dinheiro para eu comprar um pão? Garçom dê uma fatia de pão para esse menino. – Tio, pede para ele colocar margarina e um pedacinho de queijo também. - Ok... Vou pedir para colocar, mas depois você me deixa trabalhar em paz. Estou muito atarefado. Bem, instantes depois chega seu riquíssimo lanche, mas junto com ele também chega uma reflexão de constrangimento. Fez o pedido do menino, e o garçom lhe pergunta se quer que mande menino para o rumo da rua. Seus resquícios de consciência o impede dessa medida. Resolve deixar o menino ali do seu lado, mas pede ao garçom que sirva a criança o mesmo lanche que comia. Nesse momento o menino estampa um sorriso no rosto e se posta bem a sua frente. – Tio, que você está fazendo? – Estou lendo meus e-mails. – O que são e-mails? - São mensagens eletrônicas, enviadas por pessoas que mantemos contato via Internet. O abastado senhor sabia que o menino nada tinha entendido, mas imaginou que a criança ficaria calada a partir daí. Mas o menino insiste: - o que é internet? - É um local no computador, onde a gente pode ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender, etc. - E o que é virtual? O cidadão para o que faz, reflete a pergunta e responde: - Virtual é um local que imaginamos algo que não podemos pegar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias, procuramos mudar o mundo a nossa maneira. – Deve ser muito bom isso. - Mocinho, você entendeu o que é virtual? – Claro tio, foi muito lúcida sua explicação, eu também vivo neste mundo virtual! - Você tem computador? - Não, mas meu mundo também é virtual e desse jeito! Minha mãe trabalha, fica o dia todo fora, só chega muito tarde, quase não a vejo; eu fico cuidando do meu irmão pequeno, que vive chorando de fome e eu lhe dou água para ele pensar que é sopa. Minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas eu não entendo, pois ela sempre volta com o corpo. Meu pai está na cadeia há muito tempo. Sabe tio, sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos, dia de Natal e eu indo ao colégio para virar médico um dia. Isso é virtual, não é tio? O homem estupefato fecha seu lap-top, não antes que lágrimas caiam sobre o teclado. Esperou que o menino terminasse de, literalmente, “devorar” o prato dele, pagou a conta, deu o troco para o garoto que lhe retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que nunca havia recebido na vida e com um: “brigado tio, você é muito legal”. Naquele instante e naquele local teve o senhor a maior prova do virtualismo insensato, em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel nos rodeia e nós fazemos de conta que nada disso percebemos.
Notícia publicada no site: www.acidadevotuporanga.com.br
Endereço da notícia: www.acidadevotuporanga.com.br/artigo/2014/05/a-pobreza-virtual-n20091
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