*Hélcio Balbino dos Santos é professor do curso de Fisioterapia do Uniaraxá; especialista em Reabilitação Traumato-Ortopédica; especialista em Esportes e Atividades Físicas Inclusivas e especialista em Cinesiologia, Biomecânica e Treinamento Desportivo
As lesões na coluna não muito comuns no futebol, quando comparadas com outros esportes como rugby, futebol americano, hipismo e, principalmente,automobilismo.
Na última sexta-feira dia 04 de julho, no entanto, um caso particular envolvendo o jogador brasileiro Neymar (22 anos), no jogo das quartas de final da Copa do Mundo entre Brasil e Colômbia, chamou a atenção mundial pela jogada violenta e desleal cometida pelo jogador colombiano Zuñiga (28 anos) contra o brasileiro.
Neymar sofreu uma joelhada na região da coluna lombar o que causou uma lesão na coluna na terceira vértebra da região, na parte lateral esquerda chamada de processo transverso, parte muito importante, sobretudo nos movimentos rotacionais. Para entendermos de uma forma simples essa lesão, precisamos descrever alguns aspectos básicos da anatomia e da biomecânica (mecanismos de forças) relacionadas com a região e com a lesão.
A região lombar é composta normalmente por 5 vértebras (pode existir casos de variação anatômica). Especificamente a terceira vértebra lombar (L3) apresenta uma característica que a diferencia mecanicamente, ela é mais móvel em relação às outras. Todavia, todo segmento que apresenta maior mobilidade também está teoricamente mais instável, fato que o predispõe a lesões.
Outra questão importante para compreendermos a lesão é observar à biomecânica (a forma como ocorre o trauma e as forças nele envolvidas). Todo evento que envolve forças de flexão (projetar a tronco à frente) tendem a ser mais agressivos, mormente se associado com movimentos rotacionais.
Quando observamos a forma como ocorreu a lesão podemos associar estes conceitos. Ao proteger a bola, o jogador brasileiro faz uma flexão para domina-la no peito, enquanto o jogador colombiano projeta o joelho em flexão contra a região lombar de Neymar, que posteriormente ao trauma realiza uma extensão da coluna (projetar o tronco para trás) antes de cair.
Consideremos nesta situação, o peso corporal de ambos, a velocidade do jogador colombiano, a direção, o sentido e a magnitude da força aplicada na coluna de Neymar, que segundo informado pelos jornais atingiu cerca 50 km/h, em situação que embora exista uma massa muscular protetora, suportaria no máximo cerca 40 a 46 km/h.
Por outro lado tem-se que considerar que este tipo de lesão tem um bom prognóstico (evolução do quadro), sobretudo pela idade do jogador e por não ter ocorrido traumas neurológicos e de outros tecidos próximos. Enfim, há uma possibilidade de volta aos gramados em um prazo relativamente rápido.
O tratamento conservador (sem necessidade de intervenção cirúrgica) envolve principalmente repouso, uso de mecanismo contentor (cinta ou colete lombar), terapia analgésica e fisioterapia. Como o caso envolve um jogador de renome mundial muitas situações relacionadas com o retorno de Neymar aos gramados vendo sendo especuladas. Mas a literatura sugere que nesses tipos de trauma deve-se respeitar prazos médios que podem variar de 6 até doze semanas para consolidação da fratura.
Ainda que estejamos falando de um atleta de elite e de suma importância para futebol mundial precisamos lembrar que antes de tudo é um ser humano, que necessita como todos de um tempo de recuperação. Isto pode ser acelerado sim! Todavia, prudência e bom senso, são princípios básicos quando se fala em corpo humano, e devem estar presentes tanto na mente da equipe clínica cuidadora bem como na do atleta.