*Luiz Gonzaga Bertelli é presidente Executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Fiesp.
Quem não possui deficiência, não olha com a devida atenção as condições precárias das calçadas nas grandes cidades. Não repara na falta de acessibilidade no transporte público. Não percebe a ausência de material didático especializado nas escolas e bibliotecas. É verdade que, nos últimos anos, graças à mobilização de organizações sociais e da mídia, os deficientes ganharam mais atenção dos setores públicos. Nas campanhas eleitorais, o assunto já costuma ser tratado com certo destaque, o que gera também frutos positivos na aprovação de leis, como a que determina cotas para deficientes nas empresas (Lei 8.213/1991). Apesar deste contexto positivo, ainda há muito por fazer. De acordo com dados do IBGE, no Censo de 2012, existem 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência – o que equivale a mais de 20% da população total. E 61% dessas pessoas, com mais de 15 anos, não tem instrução ou, apenas, o ensino fundamental incompleto.
Em 50 anos de atuação, o CIEE tem como uma de suas bandeiras a inclusão de deficientes no mercado de trabalho. Foi por essa razão que criou o Programa para Pessoas com Deficiência, cadastrando gratuitamente candidatos com esse perfil e sensibilizando as organizações que precisam preencher as cotas determinadas pela lei. O CIEE mantém atualmente 4,2 mil pessoas com deficiência em programas de estágio de 490 empresas parceiras, além de 337 aprendizes em 126 organizações.
Recentemente, a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) formou uma turma de 65 jovens com deficiência, participantes do programa Aprendiz Legal – parceria do CIEE com a Fundação Roberto Marinho. Eles ganharam certificados de aprendizagem em solenidade na Câmara Municipal de São José dos Campos. Durante dois anos, os aprendizes receberam treinamento com atividades práticas na Embraer e capacitação teórica ministrada pelo CIEE e Senai.
Abrir oportunidades de capacitação e formação profissional para essas pessoas é dar-lhes a chance de conquistar a cidadania. Não é uma questão de caridade, mas sim de oportunidade.