*Wilton Marciano é estudante de publicidade e propaganda da UEMG -Universidade do Estado de Minas Gerais e bolsista da FAPEMIG, pesquisando A representação do ressentimento social nos meios impressos, sob orientação do Prof. Ms. Igor Pedrini
Por ser um país com fama de pacífico, a quantidade de pessoas que aderiram às manifestações ocorridas há um ano, fora visto como um acontecimento completamente atípico no Brasil.
O ano de 2013 foi diferente para uma sociedade que dormia deitada em berço esplendido e acordou em meio a uma reviravolta que deixou líderes de Estado de boca aberta. Mas o que levou estas pessoas a vestir a camisa de algo que talvez nem fosse do interesse delas, sendo que as manifestações se espalharam por todo o Brasil?
Não, não foi pelos tais vinte centavos, como já dizia um dos slogans das manifestações. Grosso modo, o cidadão carece de olhares do alto, sente o desejo de ser honrado por ter ido às urnas e depositado sua confiança em alguém para exercer um cargo político e representa-los.
A psicanalista Maria Rita Khel diz que uma sociedade pode ser ressentida.Traçando alguns laços com os fatos ocorridos em junho/julho de 2013, talvez fiquem explícitosvestígios de ressentimento social no período das manifestações.
O ressentimento social só floresce em um contexto comum, onde as pessoas se reconhecem como iguais. Naquele momento, onde uma opulência de investimentos estatais era despejada nas obras da Copa, em que os meios de comunicação de massa tinham o interesse de mostrar uma sociedade brasileira em pleno desenvolvimento, um anticlímax era gestado de forma silenciosa.
Talvez as pessoas comparassem suas vidas a das mensagens midiáticas e, por isso, não viu sentido para aquele momento, talvez pensassem “porque esses têm e eu não”? Ora, o que se queria, como bem dizia os slogans era mais saúde, mais trabalho e mais educação. Um jargão vazio, pois não apresentava de fato uma proposta de mudança. Apenas se emitia o grande incomodo que, sem propostas, não iria mudar a realidade estabelecida, apenas ameaça-la, é verdade.
A característica mais marcante no ressentido é esperar por uma vingança que nunca vai acontecer. Essa espera está entrelaçada com um constante sentir de novo, como se o que o agravou voltasse a acontecer sempre e sempre. O ressentido não quer assumir a sua culpa, integral ou parcelada. O outro é sempre o culpado e deve pagar, sem ser nunca destruído, apenas castigado. Neste caso, os políticos mereciam sofrer e foi o que aconteceu.
Um ano depois, não houve ainda manifestações com aquela quantidade de pessoas no país. Hoje, após o fim da Copa, a derrota da seleção brasileira, as campanhas eleitorais, cabe refletir se elas vão ou não adicionar mais tempero ao caldo do ressentimento social. Por hora, nos cabe esperar.