Os fatos veem à tona e não há peneira que tape o sol. O enfraquecimento da atividade econômica do País foi sentido mais uma vez nesta semana. O boletim Focus, relatório do Banco Central feito a partir de projeções do próprio mercado, os analistas agora projetam que a economia brasileira crescerá apenas 0,97% em 2014 – a estimativa anterior era de um fraco crescimento de 1,05%.
Embora tenha sido a oitava semana consecutiva de redução das estimativas de crescimento da economia, foi a primeira vez neste ano que o mercado estimou um Produto Interno Bruto (PIB) com expansão inferior a 1%.
Isso é muito pouco especialmente se considerarmos o nosso crescimento populacional de 1,1% por ano. Precisaríamos crescer mais do que esse percentual em mercadorias e serviços para não andarmos de ré, como carro sem motor e sem freio, de volta ao pé da ladeira.
A previsão anterior já era pífia e medíocre. No fundo a situação reflete a arrogância do governo federal ao não dialogar com a sociedade e a falta de uma política econômica coerente, que sinalize não só aos mercados, mas mais importante, aos produtores, empresários, trabalhadores e pequenos investidores, para onde vai a economia brasileira. Faltam não só políticas específicas para setores importantes e que estão praticamente abandonados, como o sucroenergético, mas também para o conjunto: medidas que sinalizem que o governo tentará de fato conter a inflação no “figurativo” centro da meta e que os investimentos, a geração de empregos e riquezas são prioridades do País.
Da maneira como está o cidadão fica praticamente no escuro quanto aos rumos da vida. Isso traz de volta aos brasileiros um pouco mais vividos o pesadelo da época da hiperinflação, que fez com que a década de 1980 fosse um decênio perdido. Enquanto outros países como a Coreia do Sul, Espanha e Portugal, que tinham um índice de desenvolvimento parecido ao do Brasil, saíam da pobreza e realmente ingressavam no clube dos desenvolvidos, o Brasil teve que esperar o Plano Real – portanto 1994 – para retomar uma trajetória de crescimento.
Eu sei que governos não fazem a economia crescer, mas criam as condições para que ela cresça, para que os países se desenvolvam. Aí está o papel do planejador, do líder político, não apenas do administrador da burocracia e da política macroeconômica, mas também do visionário que antevê e formula caminhos que induzam os investimentos na infraestrutura, educação, saúde e em tantas áreas que são cruciais para a nação. Principalmente, do governante que entende ser necessária a liberdade – e a segurança – para o empresário investir e para o trabalhador ser beneficiado pelo fruto do seu trabalho, o salário. Um ambiente de inflação corrói o valor da moeda e em consequência o valor dos salários.
Podemos dizer que o cenário internacional no final do governo Dilma piorou. Mas isso apenas é verdade em relação aos mandatos de Lula, embora não seja aos mandatos de Fernando Henrique Cardoso – quando houve a Crise Financeira da Ásia em 1998 e a situação política na Europa era muito complicada, com as guerras que despedaçaram a antiga Iugoslávia. Agora, um cenário econômico que não é favorável ao exportador brasileiro pela nossa falta de competitividade num instante em que o mundo retoma o crescimento.
Por outro lado, o mercado interno brasileiro dá sinais de exaustão, principalmente na indústria – na semana passada, o índice de confiança medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) atingiu em julho menor patamar desde janeiro de 1999. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) informou a criação de apenas 25,3 mil vagas em junho deste ano – foi o pior resultado para um mês de junho desde 1998. A economia se deteriora no final do governo Dilma. Faltou planejamento e mais importante, ousadia e sinceridade para atacar os problemas crônicos da falta de inovação, das baixas competitividade e produtividade, da falta de visão de Estado para elaborar uma política nacional que coloque o Brasil em rota permanente desenvolvimento.
Agora, infelizmente, já precisamos pensar rapidamente no que fazer a partir de 2015. E terá que ser diferente. Um novo rumo para enfrentar esta situação e retomar o crescimento.