*Paulo Pereira da Costa é autor dos livros “Pensando na Vida” e “Pensamento Realista” - paulopereiracosta@uol.com.br
Morreu no dia 11 deste mês, aos 63 anos, o grande ator norte-americano Robin Williams, conhecido por filmes como “Bom dia, Vietnã”, “Reflexos da Amizade”, “Uma Babá Quase Perfeita” e tantos outros,. Tristeza para nós, amantes do cinema. As investigações levaram à conclusão de que ele cometeu suicídio por enforcamento. Segundo o ‘site’ de notícias G1, o ator teria ficado “devastado” devido ao cancelamento de sua série televisiva “The Crazy Ones”, o que para ele significava um fracasso pessoal. Não é a primeira vez que uma celebridade tira a própria vida. Porém, no caso de Robin Williams, isso mais parece uma brincadeira de mau gosto do que algo real. Afinal, era um sujeito que aparecia sempre rindo e fazendo os outros rirem. Inevitável no caso a pergunta: por que alguém aparentemente tão alto astral daria cabo da própria vida? Seria o alto astral só aparente mesmo? Quando uma pessoa decide cometer suicídio, é porque a vida lhe parece insuportável. Mas como isso pode ter ocorrido com esse cara talentoso, inteligente, conhecido e querido, de sucesso consagrado no mundo todo? um cara para quem tudo parecia divertido?
Nem sempre aqueles que nos encantam, nos fazem rir, são pessoas alegres. O céu de artistas consagrados e gênios também está sujeito a nuvens negras, chuvas e trovoadas. É grande o vício em drogas e álcool no meio artístico. Pelo que pude ver em entrevistas, o Robin era um cara muito agitado, elétrico. Não parava quieto. Para provocar riso na plateia, gesticulava e falava o tempo todo, tirava sarro do entrevistador, fazia caretas, imitava animais e pessoas. Como se diz popularmente, parecia movido por uma pilha que nunca descarregava. Talvez por trás de toda aquela agitação fosse uma pessoa incapaz de se aquietar e sentir prazer com coisas simples, como a leitura de um livro, um cochilo, um passeio a pé, um encontro com amigos. Talvez fosse alguém com a necessidade de ser notado, estar sempre emitindo luz, com medo de perder o brilho, alguém que punha sobre si uma carga que se ia tornando cada vez mais pesada, alguém que não conseguia lidar com uma frustração.
Ao que parece, o seu talento para alegrar os outros já não tinha o poder de fazê-lo alegrar a si mesmo. Pelo visto, o que fazia nos filmes, shows e entrevistas não era para dar vazão ao que trazia dentro de si mesmo, mas sim uma forma de tentar vencer a depressão, de tornar suportável uma vida tomada pela solidão e outros fantasmas que o assombravam frequentemente. Um amigo dele revelou que Robin, embora empenhado em novos projetos, sentia-se infeliz e, como muitos outros comediantes, “habitava em um lugar escuro”. Talvez, longe da luz dos holofotes, Robin se sentisse só, perdido num labirinto, levando uma vida muito diferente daquela cheia de glamour que imaginamos ter os astros de Hollywood que ganham milhões, habitam mansões, andam em carrões, despertam paixões... Vocês já devem ter lido na internet a história de um médico que, como terapia, mandava seus pacientes a um circo onde se apresentava um palhaço com tamanho poder de provocar riso que curava depressão e outros males da mesma natureza. Um dia apareceu um paciente deprimido e o médico fez a mesma recomendação. “Não posso”, disse o paciente, “eu sou o palhaço”. Pois é, talvez seja o caso do Robin Williams, que, sem suficiente autoestima e ainda mais abatido pelo diagnóstico do Mal de Parkinson, preferiu ir em busca de descanso do lado de lá a enfrentar o que o afligia do lado de cá. É lamentável saber que não partiu em paz. O mundo era feliz com ele, mas ele não estava feliz com o mundo. De qualquer forma, ele deixa um legado de filmes e séries suficiente para nos emocionar, nos fazer rir e chorar, um legado que o coloca na galeria das pessoas inesquecíveis. Mesmo assim, fica marcado, se não como mais um dos que jogaram parte da vida fora, com certeza como mais um dos muitos que se foram antes da hora.