Com raras e notáveis exceções, nosso setor público é perdulário.
Os gastos inúteis e desnecessários constituem uma afronta à perpétua penúria em que vivem os setores da educação, saúde e segurança, que deveriam pelo menos solucionar as mais básicas e vitais necessidades da população. A suntuosidade costuma frequentar os poderes Executivo e Legislativo, e as regalias parecem inflar egos e alimentar a ridícula sensação de poder.
Veículos populares e econômicos são pouco frequentes em garagens oficiais, salvo os destinados ao transporte de escolares, pacientes e funcionários dos escalões inferiores, em regra sucateados. Governos que não conseguem suprir a necessidade de médicos, alegando falta de recursos, destinam quantias milionárias a patrocínios e intromissões desnecessárias, como a parada – gay e animalescos rodeios.
Por todo o país, cresce assustadoramente o número de funcionários públicos, mormente comissionados. Comissionados deveriam ocupar cargos técnicos, profissionalizando as administrações, mas não é raro encontrar nomeados estranhos ao setor, até ativistas partidários.
Cidades com apenas dois quarteirões podem contar com Secretários de Trânsito. Municípios absolutamente urbanos pode possuir Secretários para Assuntos Rurais.
A publicidade costuma ser, em muitos casos, absolutamente desnecessária, consumindo fortunas, domesticando mídias e melhorando a imagem pessoal do administrador. Habitantes do norte não precisam saber que uma prefeitura do sul está terminando a cobertura do ginásio de esportes, promessa de campanha do prefeito. É imoral o aumento de gastos em publicidade, em épocas pré-eleitorais.
As inaugurações costumam ser custosas, e são absolutamente desnecessárias, quando não ridículas. Competem, em gastos supérfluos, com o patrocínio de shows artísticos, de artistas que sequer necessitam de apoios culturais.
Vereadores alegam a busca de recursos públicos para o município, para viagens com veículos oficiais ou aéreas, com direito a sofisticadas refeições e estadias. Tal providência não é função de vereadores, que no entanto podem colaborar em tal tarefa, com recursos próprios.
São raríssimas as Câmaras de Vereadores e Assembleias que diminuem proventos de parlamentares e pessoal, e o costume é a escalada do número de assessores e estruturas de apoio legislativo. Enquanto isso, pouco legislam e fiscalizam, razão pelas quais são, justificada e injustamente, tidas como desnecessárias.
Governadores percorrem o estado levando a tiracolo secretários estranhos ao motivo do deslocamento, e acabam recebidos com banquetes onde a presença de convidados estranhos vale como status local. Faixas de agradecimento pela obra ou providência oficial deve constituir motivo de gargalhadas, por povos mais civilizados.
São raros os municípios que contam com cargos comissionados de Administrador Hospitalar, ou Responsável pelo Pronto Socorro. São cargos em que a nomeação de amigos curiosos gera mais problemas que soluções, e acabam resolvidos pela costumeira via da terceirização, quase sempre gerida com amadorismo.
E assim vamos, gastando o que não podemos em coisas que não precisamos.