Eu não gosto de você presidenta. Também não gosto desse seu papel de vender ilusão para as pessoas menos esclarecidas. Se os meninos pobres deste país pudessem entender o significado do voto, duas coisas eles decidiriam: rezariam para que pudessem atingir seus dezesseis anos o mais rápido possível para poderem exercer o direito de votar e não deixar entrar no poder os inconvenientes aproveitadores ou, de outra forma, recusariam ser eleitores para não serem execrados pelos erros cometidos contra aqueles que antes de eleitos dizem uma coisa e depois de eleitos agem de forma extremamente contrária ao que pregou antes disso.
Parece que as coisas acontecem neste país exatamente como disseram que o “outro” iria fazer contra o povo. Que incoerência isso, não acha? Quando eu era criança tinha uma ideia muito diferente das pessoas que governavam o meu país. Na minha singular ignorância eu pensava que eles estivessem servindo a Pátria como exercício de cidadania. Depois que me tornei adulto e relativamente compreensível (ainda não entendo muito as coisas) eu percebi que as pessoas falam que vão fazer o que não fazem, e não fazem aquilo que deveria ser feito.
Sabe minha ilustre, me sinto como aquela criança que enviou um bilhete ao Papai Noel pedindo o seu presente... A noite inteira esperou muito feliz... Abriram-se as cortinas do amanhã, entrando o sol pela janela e o Papai Noel não chegou e nem satisfação deu. Tempos depois, seu pai, com um triste olhar de quem não consegue as coisas, coloca nas mãos do filho um brinquedo enferrujado, vindo, quem sabe, do lixo acumulado do outro lado da rua. É isso que sinto como brasileiro esperançoso que vi, há uma década, promessas de mudanças de um país pobre para um país digno e respeitado pelo resto do mundo.
Para ser sincero eu esperava um país assim como o menino esperou um brinquedo melhor e mais agradável para o seu Natal. Um belo dia, envergonhado pela atitude, seu pai lhe pede de volta o velho brinquedo dizendo que o trocaria na cidade por um de controle remoto. Contrariado, o menino lhe entregou o presente enferrujado com que já havia se acostumado a brincar dizendo ao pai que não queria outro, talvez pelo medo de ficar sem aquele também. Pai! Eu não quero outro brinquedo, eu quero meu enferrujado... Não vai levar meu brinquedo, pai...! Seu pai calou-se, e de seu rosto vislumbrou um choro sentido, que até hoje só Cristo chorou assim. Ele saiu correndo, bateu a porta e, de angústia, nunca mais voltou. Você presidenta, me transformou numa criatura sem brinquedo com suas promessas não cumpridas, permitindo esse descalabro de assaltos nas contas públicas. Você permitiu que os criminosos se safassem de seus crimes com a frase decorada e infame: “eu não sei de nada, não existem provas”. Cada vez mais as provas são claras e a justiça não consegue ou não quer agir como devia. Eu lamento o estado que se encontra a minha nação, como lamentou o menino quando seu pai lhe tirou o enferrujado brinquedo, porque sabia que naquele momento perderia tanto o brinquedo quanto o pai. É o que sinto deste país, perdido e sem rumo, sem o direito de se alinhavar junto aos mais dignos países deste planeta.