Leandro Vieira é mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Certificado em Empreendedorismo pela Harvard Business School.
Você já ouviu falar em profecia autorrealizável? O termo foi cunhado em 1949 pelo sociólogo americano Robert Merton, e diz respeito às “previsões” que costumamos fazer e que, por acreditarmos tanto nelas, acabamos moldando o nosso próprio comportamento de forma que a profecia acaba se tornando real. Nas palavras do próprio autor: “a profecia autorrealizável é, no início, uma definição falsa da situação, que suscita um novo comportamento e assim faz com que a concepção originalmente falsa se torne verdadeira”.
Um exemplo prático desse efeito foi comprovado pelos professores Robert Rosenthal e Lenore Jacobson, na década de 60. Eles conduziram um estudo em uma escola fundamental da Califórnia que consistia basicamente no seguinte: no começo do ano, realizaram um teste de inteligência para medir o QI das crianças. Em cada sala de aula, separaram aleatoriamente 20% dos alunos e disseram aos professores que aquelas crianças tinham um grande potencial intelectual e que deveriam apresentar um desempenho surpreendente durante o ano, enquanto as demais eram crianças com “potencial normal”.
Na verdade, porém, a única diferença entre os dois grupos era somente a expectativa dos professores, que nada sabiam sobre o experimento que estava sendo realizado. No fim do ano, todas as crianças foram testadas novamente. As crianças que os professores foram induzidos a acreditar que fossem as mais inteligentes, tiveram um desempenho bastante superior às demais crianças da escola. Notem: apenas o olhar dos professores sobre um grupo aleatório de crianças, esperando que elas fossem mais inteligentes e talentosas do que a média, determinou que eles as tratassem dessa forma e, no fim das contas, os resultados desse grupo foram muito superiores aos dos demais alunos.
O administrador míope, que não enxerga o verdadeiro valor da sua equipe, irá materializar inevitavelmente sua visão estreita nos resultados. Ele é aquele cara que está sempre resmungando para si mesmo: “são uns incompetentes mesmo!” - e não estará errado, pois a tendência de que essa “profecia” se concretize é muito forte.
Para inspirar pessoas, você deve saber, antes de tudo, inspirar-se com elas. Saber reconhecer o talento e a singularidade de cada colaborador é o primeiro passo para alavancar a força de uma organização e conduzi-la a patamares superiores. Liderar não é só dar o exemplo. Liderar é também saber enxergar a riqueza que cada membro da equipe traz dentro de si.