Os filhos, obviamente são as verdadeiras cópias de seus pais, bem parecidos com eles e a isso a sociedade chama de educação. Nenhuma mãe tem qualquer dúvida que tenha parido uma propriedade; nenhum pai quer, ao ter seu filho, que ele seja um objeto de uso e nem quer discutir ou deseja submeter seu filho aos mesmos valores seus.
Li há certo tempo atrás, que ao pé de um farol qualquer, num espaço físico do mar e em qualquer lugar deste mundo, não há luz. O farol só tem luz em seu topo. Entretanto, se nos referirmos a uma proximidade emocional entre pai e filho, a ótica passa a ser outra. Não falo aqui da distância geográfica. Esta existe e a Física comprova. Somente hoje, quem vive distante dos pais por quaisquer motivos vê o suficiente, com nitidez incrível, a luz de seu farol e a liberdade encantadora do amor puro e santo que algum dia lhe pareceu sufocante e limitador.
Foi preciso lançar-se ao mar, navegar em ondas gigantes, enfrentar as mais difíceis batalhas daquilo que chamamos vida, para poder enxergar e se encantar, não somente com o que nos tornamos, mas também para reconhecer a segurança do porto onde se situa o farol de onde partimos. Só assim podemos entender não apenas o que somos, mas de quais raízes brotamos. Como disse um poeta um dia: “lembremo-nos de, quando jovens, termos dado a nosso pai um livro, que em uma de suas amarelas páginas estampava: Vossos filhos não são vossos filhos, são filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma”.
Eu, como todo jovem clamei por liberdade a qualquer custo, ignorante e alheio dos perigos do que desconhecia, enxergando apenas o mar que a minha frente se apresentava um gigante. Dizer ao meu pai para ele folhar o livro talvez fosse ideia de menino aprendiz, não poderia ser outra coisa. Com certeza eu imaginava que lendo o livro poderia meu pai entender a minha ânsia de liberdade. Ele sempre me orientava sobre os perigos incrustados na liberdade. Nem sempre eu entendia. Eu, postado ao pé do farol enxergava nada mais que a beleza do horizonte, mas não supunha o íngreme percurso que ali ficava escondido. Hoje me tornei pai e porque não dizer avô também. Nossos filhos crescem, tornam-se maduros, mas não conseguimos tratá-los de forma diferente, senão de vê-los como se tivessem sempre a mesma idade, a mesma mentalidade, as mesmas fraquezas. Hoje eu entendo que para aprender a navegar é preciso desafiar a tempestade das águas.
Se nossos filhos estão ainda ao pé do farol, para que vejam a luz é preciso entrar mar adentro. O melhor que podemos fazer é desejar-lhes que sejam dominadores da viagem. Que eles possam levar em suas mochilas um pouco de suas raízes. E é nessas mochilas que estamos nós, e é aí que podemos acompanhá-los. Palavras de um filósofo: “Acreditar que basta ter filhos para ser um pai é tão absurdo quanto acreditar que basta ter instrumentos para ser músico”. Os filhos são educados para serem filhos a vida toda, mas não podemos negar que para isso devam se omitir de ser amanhã o mesmo pai que somos nós hoje.