Heloísa Capelas é especializada no desenvolvimento do potencial humano por meio do Autoconhecimento e do aumento da Competência Emocional há mais de 20 anos
Nem bem as aulas começaram e muitos alunos já levaram para casa o calendário de provas e avaliações que terão ao longo do ano, despertando nos pais, principalmente, a ansiedade quanto ao desempenho escolar dos filhos e de que maneira devem participar desse processo.
Durante muitas e muitas décadas, a sociedade recorreu a um único parâmetro para separar os indivíduos bem-sucedidos dos malsucedidos. A inteligência intelectual – ou seja, o nível de conhecimento e a capacidade de raciocínio, planejamento e resolução de problemas – foi, por muito tempo, o principal fator analisado para que se fizesse essa divisão. O melhor exemplo disso aconteceu (e ainda acontece) nas salas de aula: alunos com boas notas no boletim são muito bem vistos por pais e professores; por outro lado, aqueles com médias mais baixas chamam a atenção, recebem broncas e, com frequência, são considerados menos capazes.
É grande a necessidade de mudarmos esse paradigma. Na infância, em especial, é preciso ficar atento a muitos outros aspectos para identificar os verdadeiros atributos e dificuldades apresentadas por cada criança.
Tenho quatro filhos e cada um deles me trouxe uma experiência completamente diferente. Precisei aprender, na prática, a compreender e lidar com personalidades distintas. A minha segunda filha sempre foi uma ótima aluna. Dedicada, tirava notas excelentes. Nascido dez anos depois, o meu terceiro filho seguiu outro caminho. Sua primeira nota vermelha apareceu no boletim da segunda série do Ensino Fundamental; a primeira de tantas outras. Compará-los, ainda que apenas com base no desempenho escolar, nunca foi uma possibilidade. Afinal, além da diferença de idade, meus dois filhos do meio apresentavam talentos e dificuldades muito particulares. As notas me serviam de parâmetro, mas jamais seriam suficientes para que eu avaliasse o desenvolvimento ou o potencial de cada um.
Hoje, quando eles estão na fase adulta, percebo claramente o quanto foi importante dar espaço para que crescessem no seu próprio ritmo e caminho. Com seus atributos tão específicos, eles encontraram as ferramentas de que necessitam para conquistar felicidade e bem-estar.
Compartilho essa história, como disse, apenas para reforçar minha proposta para a educação. É preciso olhar para a criança, observá-la para que tenha a oportunidade de mostrar seus talentos e dificuldades. Essas características, aliás, aparecem naturalmente, desde que nós, familiares e educadores, estejamos de olhos bem abertos. Basta uma simples brincadeira para que possamos observar, por exemplo, se estamos diante de uma criança introvertida ou extrovertida, líder, produtora, mantenedora, entre tantas outras possibilidades.
A capacidade intelectual serve como referência, assim como as aptidões emocionais e físicas. A criança precisa ser vista, não moldada dentro de valores preestabelecidos. Ela nasce pronta para se desenvolver com suas qualidades inatas. E, se puder ser reconhecida, crescerá em todas as suas inteligências. Basta que lhe ofereçamos a oportunidade e o direito de que seja apenas quem e como ela já é.