*Diego Ivo é CEO da consultoria Conversion, especializada em posicionamento na internet, e um dos grandes especialistas em negócios digitais
Os indicadores com o balanço da economia brasileira em 2014, divulgados recentemente pelos órgãos oficiais, mesmo com um desempenho irrisório dos principais setores, praticamente têm passado despercebidos por governos, empresas, analistas de mercado e lideranças. Talvez porque não haja nenhuma novidade, já que a redução do nível de crescimento do país foi amplamente profetizada ao longo do ano.
Os números apresentados, embora trágicos sob o ponto de vista de emprego e renda, parecem não ter realmente chamado a atenção. Talvez haja uma certa passividade diante do óbvio ululante. Ou talvez porque o país ainda viva o medo paralisante do fantasma da falta d‘água, do aumento das tarifas de energia ou dos escândalos diários de corrupção das estatais.
Mesmo que não tenha tanto apelo quanto essas crises atuais, nunca é demais lembrar o fato de que a indústria apresentou retração de 3,1% em 2014, segundo o IBGE, considerado o pior resultado desde 2009. O comércio também sofreu queda no desempenho. De acordo com o Serasa Experian, o movimento dos consumidores nas lojas em 2014 cresceu apenas 3,7% em relação ao ano de 2013. Foi o menor ritmo de crescimento da atividade varejista em 11 anos.
Inclua nessa conta as elevações nas taxas de juros no mercado doméstico, a alta da inflação, verificada principalmente nos primeiros meses do ano, e o nível de endividamento dos consumidores, que preferiram sair da inadimplência em vez de assumir novos investimentos.
A internet na contramão da economia
Há, porém, um segmento da economia que tem se destacado não só pelo seu crescimento, mas também pelo nível de inovação e empreendedorismo. Na contramão dos indicadores oficiais, o comércio eletrônico cresce a uma taxa de 25% ao ano. As empresas ligadas ao ecommerce nacional talvez sejam as únicas com motivos para comemorar. O setor faturou R$ 43 bilhões em 2014 e apresentou um crescimento de 26% em relação ao período anterior, quando o volume de negócios atingiu cerca de R$ 34 bilhões.
Segundo nossas análises, a estimativa é que o comércio eletrônico tenha gerado mais de 136 milhões de pedidos no último ano, com um valor médio por compra de R$ 316. Um dos fatores de sucesso foi o bom desempenho apresentado nas datas comemorativas. Somente na Black Friday, por exemplo, o e-commerce ultrapassou a marca de R$1 bi em uma única data, grande recorde do setor.
As cinco categorias de mercado que mais geraram negócios pela internet foram viagens e turismo, com 15% das vendas do comércio eletrônico. Os eletrodomésticos responderam por 14%, seguido por produtos de informática (11%), cosméticos, perfumaria e bem-estar (10%) e eletrônicos (10%). Já os cinco Estados que mais realizaram compras foram, respectivamente, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.
Só o Estado de São Paulo é responsável por 50% do total de pedidos e responde por 45% da movimentação financeira nos sites de comércio eletrônico, um montante estimado em cerca de R$ 19,3 bi. Os fluminenses compraram pouco mais de R$ 6,2 bi e os mineiros, R$ 4,1 bi. Somados, os três estados mais habituados a compras online representaram 69% das vendas.
O país vive um momento de muita maturidade no comércio eletrônico. De um lado há o varejista que tem investido pesado em segurança, tecnologia e logística, a fim de garantir a melhor experiência de compra para os clientes. E, de outro, há o consumidor que hoje enxerga as vantagens de comprar pela internet, como comodidade, acesso a produtos e serviços não disponíveis em sua região, além de preços mais acessíveis. Um cenário digno das economias mais fortes do mundo.
As projeções do varejo eletrônico para 2015 são bastante animadoras, ao contrário do que se espera para a economia como um todo. O Banco Central prevê inflação acima de 7% e já reduziu o índice de crescimento do PIB de 0,13% para 0,03%. Mas o comércio eletrônico trabalha com a perspectiva de um incremento de 30% na receita e as lojas virtuais esperam vender algo em torno de R$ 56 bilhões.
Há dez anos, quem diria que o Brasil.com.br em vez de uma ‘marolinha’ seria um dos segmentos mais sólidos e crescentes da economia?