Pedro Israel Novaes de Almeida / pedroinovaes@uol.com.br
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
Apesar de contarmos com apenas 515 anos, somos um país já esclerosado e decadente.
Aquelas saudosas referências ao fato de termos dimensão continental, climas e solos variados, reservas minerais agigantadas, águas límpidas e fartas, praias maravilhosas e florestas imponentes, já perderam o encanto. São alusões que, recitadas na infância, simplesmente adiam a indignação de estarmos, de fato, deitados, e dormindo mal, em berço esplêndido.
A célebre opção, ouvida às margens do Ipiranga, de independência ou morte, ainda ecoa. Continuamos vivos, mas não somos independentes.
Vivemos uma escravidão política. Somos reféns de nossos representantes, e vítimas de nossa ignorância.
Nosso problema é exclusivamente político, e temos um sistema imundo de democracia. O voto obrigatório faz uma multidão acabar votando em nomes mais conhecidos, e é o poder econômico o agente maior da popularidade.
Representantes são escolhidos dentre pessoas normais, que trabalham, sobrevivem, pagam contas e conversam, com vizinhos e amigos. Pessoas que passam décadas como representantes deixam de ser pessoas normais, abandonam a profissão e viram simplesmente políticos com mandado.
A reeleição, sem o intervalo de pelo menos um mandato, é o cancro de nosso sistema. Inibe novos valores, cria feudos partidários e faz o eleito mirar tão somente o próximo pleito.
As disputas eleitorais são meramente midiáticas, com marqueteiros fazendo o papel de ventríloquos, e candidatos pregando e alardeando coisas com as quais não concordam ou sequer conhecem. Soa melhor, e mais convincente, o discurso financiado por pessoas jurídicas, que no Brasil conseguem o milagre de possuir preferência partidária, e, após o pleito, preferência licitatória.
Nossas frescuras, democratites, vão ao extremo de permitirem a candidatura de semianalfabetos, ou analfabetos inteiros, para atuarem como legisladores ou administradores públicos. De vereador a presidente, convém pelo menos o histórico de um curso superior.
Nossos partidos são amontoados de letras, verdadeiras ações entre amigos, e impedimos as candidaturas avulsas. Na verdade não elegemos, apenas ratificamos a eleição já realizada pelas sombrias cúpulas partidárias.
Não temos partidos, mas amontoados, e pagamos pela propaganda que fazem. Na balbúrdia e escárnio em que vivemos, convém a retirada de verbas públicas, para que propagandas sejam custeadas tão somente por doações de pessoas físicas.
Parlamentares assumem cargos e funções executivas, sem perda do mandato, e tal promiscuidade faz o executivo detentor de cargos no legislativo, controlando o desempenho político de suplentes. Quando parlamentares não assumem, indicam substitutos, acumulando mandos legislativos e executivos.
Verbas e cargos são moedas de troca nos balcões políticos, e a corrupção segue compartilhada. Bases de sustentação parlamentar oferecem, e entregam, apoios irrestritos. Por vezes se rebelam, chantageando favores. Bases de sustentação exigem o agigantamento do máquina pública, e a multiplicação sem peias de cargos comissionados.
Nosso problema é político, e só os políticos podem votar leis que impeçam a continuidade do secular descalabro. Sabem quando ?