Prof. Manuel Ruiz Filho é colaborador deste jornal - manuel-ruiz@uol.com.br
A minoria das pessoas hoje acredita que o tempo não é mais o mesmo que os tempos de outrora. A vida cada vez mais se desfigura numa velocidade assustadora. Acordamos muito mais cansados do que quando nos deitamos. As pessoas parecem estar em permanente estado de aflição, de angústia e a gente percebe claramente que o tempo passa numa velocidade implacável e acabamos por não vivê-lo.
A concepção que nos tem proposto descanso de qualquer tipo de trabalho após o sábado, cada vez mais nos parece coisa do impossível. É preciso entender que essa pausa não se restringe tão somente ao descanso semanal remunerado, do contrário, é fator indispensável à saúde de tudo que tem vida. O meio ambiente e a Terra nos confirmam que o descansar é uma necessidade do planeta, embora constantemente afirmássemos que o tempo de 24 horas de um dia é muito pouco pelo que temos a fazer dentro dele.
Nos dias de hoje, o tempo em que nada fazemos tem sido preenchido por lazer e o lazer não tem sido feito de descanso, mas de ocupações para não nos ocuparmos. O próprio termo entretenimento nos parece indicar o desejo de se movimentar e de não o desejo de parar. A dificuldade de parar já é por si só, uma manifestação depressiva e inquietante. O mundo tem nos parecido doente por permanecer deprimido e os investimentos nesse setor crescem muito.
Nossas cidades mais parecem parque de diversões a céu aberto. Resultado: em todo final de dia - o amargo gosto do vazio. O celular encurtou a distância entre as pessoas geograficamente distantes, mas infelizmente distanciou aqueles que permanecem um grudado ao outro. De cada dez jovens que a gente observa pelo menos nove deles estão ‘desligados’ das pessoas que os rodeiam por estarem manipulando a máquina do momento. Um divertimento que pouco ou nada adoçou nossos sonhos, a não ser os sonhos de negócio.
Existem dias prontos para não serem lembrados, não fosse o poder fotográfico dessa máquina. Nosso mundo mais parece um shopping iluminado onde aspessoas se aglomeram e se cruzam, mas não se cumprimentam pela imensidão de pacotes nas mãos. Os celulares e a televisão não dormem, não pregam os olhos nenhum instante. A loucura dos negócios e a exploração dos mercados se revezam e se misturam ludibriando seus usuários. Mais parecemos pilotos de fórmula 1 em velocidade insaciável nas rodovias sem acostamento, a olhar paisagens laterais que não distinguimos nem de um lado nem de outro.
Quando tentamos fazer referência ao futuro ele já nos parece passado. Tudo nos passa tão rápido que às vezes o próprio futuro se confunde com o presente. Percebe-se que as montanhas se apresentam com roxas olheiras; os rios se abstêm de banhos; as cidades não mais cochilam; o mar não consegue tirar férias; e o domingo sente falta de um bom feriado. As pessoas que dispõem de tempo parecem não ser gente séria, entretanto, quem não tem tempo parece que anda na ‘onda’.
No mundo contemporâneo nunca se fez tão pouco por tão poucos. Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Percebe-se que o que mais se pergunta nos dias de folga é o que se vai fazer naquele dia, já com grande dose de ansiedade. Somos sonhadores seculares e não sabemos mais o que fazer numa bela tarde de domingo. “Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo fere-se mortalmente. É isso que envelhece nossa alegria, o sonho de fazer do tempo uma mercadoria”.
É necessário que resgatemos coisas milenares, que saibamos refletir sobre nossos dias de descanso. “Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído”.