Prof. Manuel Ruiz Filho é colaborador deste jornal
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Era vinte e sete de setembro de um ano longínquo. Exatamente no dia em que eu completaria meus quinze anos de idade. Um menino cheio de vida e esperança. Eu tinha certeza absoluta que aquela época era a mais importante da minha vida. Pudera! Aos quinze anos de idade o mundo nos parece encantado. Eu sabia que outras fases da minha vida antes disso foram também importantes, mas minha consciência era pequena ainda para desfrutar delas.
Acabei elegendo a idade das quinze primaveras como a mais importante. Mas não foi. Descobri depois que quando completei meus dezoito anos, a vida me pareceu estar no ápice de todas as conquistas. Ledo engano também. Quando pus meus pés dentro de uma faculdade senti um sabor indecifrável de vitória. Achei que essa sim era a melhor época da minha existência. Mas não era. O meu casamento, o nascimento de meus filhos superaram todas essas fases. Isso me deixava até inseguro pela rapidez que o tempo passava e eu sentia cada vez mais que as melhores fases da minha vida iam ficando enroscadas no tempo. Mas aí, estabilizei profissionalmente. Agora sim, essa deve ser a melhor fase da minha vida. Mas também não o foi. Outras fases melhores estavam por vir.
Nasceu Isabela, minha primeira neta. Percebi que minha vida estava recomeçando e muito mais encantada. Rejuvenesci. Melhor fase da minha vida foi poder carregá-la nos braços. Que coisa maravilhosa é sentir os netos no colo. Encantou-me quando ouvi pela primeira vez a palavra vovô a mim dirigida. Não tive dúvida, essa foi a melhor fase da minha vida. Mas não parou por aí. A Laura veio redobrar os encantos. Agora sim, percebo que essa é a melhor fase. Impossível alguma coisa superar esse encanto de ter os netos no colo. Brincar com eles, reviver a infância que o tempo incinerou da memória. Tenho a agradável certeza que essa fase não será superada por nenhuma outra.
Pergunte a seus avós qual a melhor fase de suas vidas. Não tenho dúvidas que eles dirão que foi a fase de convivência com você. Não existe algo que substitua isso. Certo dia, perguntei a um velho amigo qual fora a melhor época de sua vida. Sem titubear, ele respondeu: bem meu amigo, essa sua pergunta me faz filosofar no tempo. “Quando era criança, meus pais cuidavam de mim, sem que eu precisasse me preocupar com nada, aquela foi a melhor época de minha vida. Quando fui para a escola e aprendi as coisas que sei hoje, aquela foi a melhor época de minha vida. Quando arrumei meu primeiro emprego, passei a ter responsabilidades e a ser pago por meu esforço, essa foi a melhor época de minha vida. Quando me apaixonei pela mãe de meus filhos, aquela foi a melhor época de minha vida. Quando me tornei um jovem pai e pude ver meus filhos crescerem, e adentrarem no mercado de trabalho sem sacrifícios, aquela foi a melhor época de minha vida. E, agora, que tenho setenta e nove anos e estou com saúde, sentindo-me bem, querido por toda minha família e por todos meus amigos, não tenho dúvidas, esta está sendo a melhor época de minha vida!”
Eu tenho certeza, que todos somos iguais quando buscamos entender as melhores épocas de nossas vidas. Na verdade, são todas as épocas, depende de nós valorizá-las no tempo. Este artigo eu quero dedicar a um grande amigo da família que teve a vida pautada pela decência e honestidade. Sebastião Constâncio é o nome do ilustre. Com certeza, pela trajetória de vida que sempre teve, deve ter tido como melhores épocas de sua vida todos os momentos dedicados à sua família.