*Luiz Carlos Borges da Silveira é empresário, médico e professor. Foi Ministro da Saúde e deputado federal
A crise de energia continua presente e preocupante. A mídia nacional destaca a notícia, indicativa da gravidade da situação. Diz que empresas industriais, comerciais e de serviços estão investindo na compra de geradores prevenindo-se para o pior. A demanda está levando quase ao colapso as produtoras desses equipamentos.
Esta crise, que não vem de agora e foi sempre irresponsavelmente minimizada pelos governos, é produto de diversos fatores, dentre os quais a imprevidência do setor público, que agora anuncia tratativas para compra de energia elétrica do Uruguai e da Argentina. Diversos estudos técnicos da maior credibilidade feitos por organizações não governamentais e outras ligadas à Agência Nacional das Águas (ANA) indicavam, há mais de dois anos, que os reservatórios anualmente registravam limites decrescentes e que o regime pluviométrico apresentava previsões negativas. Tudo isso foi ignorado, inclusive algumas medidas recomendadas para o país não enfrentar crise futura.
O governo, sem nenhum motivo estratégico, apenas eleitoral, segurou o preço das tarifas e ainda negociou com concessionárias no vencimento de contratos de concessão pagando alto preço sem repassar o custo ao consumidor. Além disso, para assegurar o suprimento foi comprada energia das termoelétricas remunerada acima de seu custo. A empresa que mais lucrou com isso foi a Petrobras, que ganhou R$ 1 milhão num período de apenas nove meses fornecendo energia a preços mais altos, segundo o Balanço Energético Nacional, citado pela Ong Amigos da Terra.
O país precisa se voltar para a energia hidrelétrica e não para as termoelétricas, poluentes e não sustentáveis, e as nucleares, estas gerando tremendo custo sem suprimento minimamente necessário, além de enormes riscos; este é um sistema viável em países sem potencial hídrico. A potencialidade do Brasil é muito grande, basta que os projetos sejam implementados com prioridade.
Outro problema a ser enfrentado é o licenciamento ambiental que de longa data dificulta o cumprimento de prazos de obras de hidrelétricas e de linhas de transmissão. Ações de ambientalistas muitas vezes descabidas, de cunho ideológico e amparadas judicialmente são enorme estorvo. Esses grupos deveriam ter visão racional e entender a necessidade da produção energética para o desenvolvimento econômico e social do país.
Depois de todos os equívocos políticos e técnicos o governo admite o rombo no setor e promove ajustes de preços que até o final do ano podem ultrapassar a 35% e ameaça retirar subsídio à energia de 5 milhões de famílias. Consenso na Conferência de Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, reunindo técnicos e autoridades de 170 países, concluiu que a geração hidrelétrica é renovável e merecedora de apoio internacional. Entre as considerações aprovadas estão: A hidroeletricidade viabiliza a utilização de outras fontes renováveis; promove a segurança energética e a estabilidade dos preços; contribui para o armazenamento de água potável; ajuda a combater mudanças climáticas; melhora o ar que respiramos; oferece contribuição significativa para o desenvolvimento; aumenta a estabilidade e a confiabilidade do sistema elétrico; significa energia limpa e barata para hoje e amanhã; é fonte renovável de energia; a hidroeletricidade é um instrumento fundamental para o desenvolvimento sustentável.
Resumindo, não foi apenas a falta de chuvas que desencadeou a crise energética no Brasil. Porém, quando ouvimos o ministro de Minas e Energia declarar que não ocorrerá nem crise e nem apagão porque Deus é brasileiro e haverá de mandar chuva suficiente aos reservatórios, entendemos claramente o quanto o país está atrasado.