A crise do setor sucroalcooleiro, que se intensificou em 2014 e é apontada por especialistas como a pior em três décadas, parece longe de terminar. No Centro-Sul, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), cerca de 80 usinas fecharam as portas por dificuldades financeiras e outras 67 seguem em recuperação judicial em todo o País. Com isso, nos últimos dois anos, perderam-se 60 mil empregos. Infelizmente, ainda há risco concreto de que mais nove produtores paralisem atividades em 2015.
Levantamentos apontam que a safra de 2015 poderá ser 12,1% menor em São Paulo em relação a 2014, com queda de 7,8% no Centro-Sul. Tal retração é um retrato da conjuntura negativa da atividade, cuja situação agravou-se devido a vários fatores. Além da crise hídrica sem precedentes, que atingiu todo o agronegócio brasileiro, a dificuldade na obtenção de crédito está aumentando e os juros crescendo. Isso eleva o nível de endividamento das empresas. Não resta alternativa ao setor senão se reinventar para sobreviver.
Os produtores já vinham enfrentando grandes dificuldades com a restrição de crédito pelos bancos. Recentemente, esse entrave estendeu-se aos investidores internacionais. O cenário, então, é o seguinte: crise na produção e obstáculos na captação de recursos. Dessa forma, com a redução da rentabilidade, combinada com a necessidade de investimentos altos, as usinas não conseguem gerar “free cash flow” suficiente para bancar o serviço da dívida. Num cenário sem crédito disponível para refinanciar os vencimentos o risco financeiro aumenta dramaticamente, o que levou várias usinas a recorrerem à recuperação judicial.
Isso se reflete diretamente na visão que os executivos têm do que deve ser feito para que as companhias tenham uma reestruturação bem-sucedida. Quarenta e um por cento acreditam que a profissionalização da gestão e melhor governança corporativa são fundamentais, seguindo-se um eficiente sistema de gestão, em especial financeira, citado por 34% dos entrevistados.
Ao olharmos para o setor sucroalcooleiro e o agronegócio em geral, a preocupação é ainda maior, já que muitas empresas ainda contam com uma gestão familiar. Processos de profissionalização, no entanto, não significam alijar a família da operação, mas garantir que a empresa e seus funcionários (acionistas ou não) ocupem espaços de acordo com as regras de mercado. Isso facilita a vida da empresa, a começar pela maior facilidade na obtenção de crédito.
A governança corporativa gera melhor estruturação de toda a companhia, incluindo os setores de contabilidade, economia, finanças, gestão e a própria estratégia corporativa. Por isso, a sua adoção tem papel fundamental no desempenho de uma empresa, incluindo a definição de um planejamento estratégico, que é parte fundamental do empreendedorismo, seja ele no âmbito das empresas familiares ou empresariais.
Estabelecer uma visão de longo prazo é questão de sobrevivência. No setor sucroalcooleiro, a tomada de decisão impactará os resultados para os próximos ciclos da cultura, contados em cinco ou dez anos. No exercício do planejamento, mais importante do que acertar a previsão do futuro é levar a empresa a se manter de olho no foco e na direção correta.
Fazer mais com menos deve ser o lema que direcionará os próximos passos do setor sucroalcooleiro.Os governantes não entenderam que podem contar com uma força poderosa a seu favor e em benefício da sociedade, no desenvolvimento da renda, empregos, e impostos sustentando uma cadeia industrial maior que a automotiva ou mesmo de óleo e gás, além de atuar aumentando a autossuficiência e segurança energética do país. Portanto, fica a mensagem aos governantes: estamos prontos para ajudar a construir um Brasil melhor, com mais renda, mais energia, mais tecnologia própria, levando para o interior o desenvolvimento e oportunidades.
Porém, temos que fazer pelo menos a nossa parte. Acima de tudo, empreendedores, bancos e investidores, dentre outros, devem ter uma parceria integrada, atuar em conjunto e adaptar suas práticas para, dessa forma, utilizar suas competências com o objetivo de mitigar os impactos das crises, realizar uma eficaz gestão de riscos, preservar o valor das empresas e fazer com que 2015 seja um ano diferente, contrariando as previsões negativas.